15/11/2016

inVerno



Percorro o tempo que se instalou dentro de mim com a ponta dos dedos. Está frio lá fora – sabes que o inverno vem a chegar? – e começo a sentir o peso da minha roupa  vaza de corpo. Pego nos restos da tua voz e coloco-os sobre o meu escutar. Estou cego – sabes que o inverno vem a chegar? – como se vivesse na parte mais funda das noites que não sabem terminar em nós. Tento ver-te no fundo do meu vazio e não te encontro no corpo, não te sei na voz, não te escuto no tempo. Sei que o inverno vem a chegar. Guardo-me na ponta dos dedos e fecho as mãos. Espero que chegues.

luAr

Foi no segredo do luar que nasceu no dia angustiado que comecei a rezar. Entoei todos os cânticos que não aprendi e reservei-me no lugar mais fundo do começo da noite. Extasiei-me perante a imensidão da luz que me atravessou e corri dentro da minha nudez a tactear o ferro do chão. Cresceram sebes e flores no silêncio das palavras adormecidas e dancei com os espíritos do meu passado. Gritei ao vento o meu nome e deixei-me cair sobre o frio da madrugada. Passei o tempo inteiro de mim no relento da minha vida. E comecei a rezar até me encontrar na voz e recomeçar o dia.

10/05/2016


Escrevo sobre linhas invisíveis na esperança de que as letras não desapareçam na tinta.

Invade-me uma tristeza infinita coberta de tons azuis.  Sinto a dor a dilacerar-me o peito por dentro e as vísceras a sangrar. Doí-me tudo, inteiramente, como nunca antes.

Imagino o que o vento trará na maré que vai chegar e tremo na imensidão da minha angústia.

Choro em silêncio o segredo da solidão antiga. Desfaço-me num mar de lágrimas e quase me deixo ir na vaga.

Peço-te que não me deixes agora senão perder-me-ei. Peço-te que não me deixes cair agora pois temo não voltar a erguer-me.

Olho para o que fica de frente com um olhar de quem já tudo viu. Permito que o passado descanse sobre um sono antigo.

Inalo o cheiro da terra depois da chuva e procuro os resquícios do mar na minha pele.

Respiro fundo e encontro as palavras na tinta da terra. Procuro reencontrar o respirar enquanto sigo em frente.

30/04/2016


Estou apenas a aguardar que o tempo cesse de correr. Estou à espera de que os ossos cessem de ranger dentro da terra que me cobre. Estou a sentir o corpo a acinzentar enquanto o alcatrão aquece sob o calor que emana da tua raiva. Procuro as sombras que restam nas ruas que faltam para chegar a um qualquer lugar. É a última vez que te pergunto porquê. É a última vez que te digo porquê. Estou a aguardar que o tempo mude e deixe de fazer calor. Sinto o corpo a morrer na incerteza dos dias que não cessam de continuar. Os meus pés estão gelados sobre o alcatrão molhado do orvalho do início dos dias em que me sei sem verdadeiramente me reconhecer. É a última vez que te pergunto. É a última vez que te digo. Estou a sentar-me no chão vazio e a gritar no toque das tuas mãos. Vou esperar que o tempo pare e eu recomece a respirar. É a última vez que te pergunto porquê. Desvaneço com as sombras que restam nas paredes desta cidade vazia.

25/04/2016

Não preciso mais que regresses. Sei o caminho de volta.
Não recomendo que olhes para trás. Recomecei a minha marcha lenta e já ai não estou.
Não deves jamais voltar para trás. Tudo o que havia já terminou.
Tenho de recomeçar. Pegar nas pedras e na terra e reencontrar os caminhos para os lugares de mim. Reconstruir tudo. Esquecer o que resta. Recomeçar. Segurar nas minhas mãos e no meu vazio e recomeçar.do princípio. Voltar a erguer o corpo perante a chuva que cai aqui e voltar a começar. Não esperar nada. Não desejar nada. Simplesmente recomeçar.

10/04/2016

rUn


Começo a correr quando a chuva regressa. Começo a cair quando a frio recomeça. Doí-me na frente do olhar a imagem da minha ausência. Invejo o amor que reside nos corpos dos outros, nos segredos dos outros, nos segredos teus em que eu não tenho espaço nem lugar. Corro sem me mexer. Dentro de mim devasto o vento na minha velocidade aniquiladora. Nada sobra depois da minha passagem. Não tenho segredos. A verdade é que não tenho nada em mim para te entregar e não te sei dizer isso. Não me te sei dizer nada. De forma nenhuma. Vez nenhuma. Doem-me as vísceras no respirar. Desfaço-me me resquícios de cinzas de cada vez que sinto como me faz falta sentir na língua os segredos que residem na tua fragilidade. Corro a mexer-me inteiro dentro de mim e a saber-me ao sabor acre que reside nas coisas gastas pela ferrugem do tempo. Rasgo-me na certeza plena de que nunca mais poderás chegar perto de mim. Porque eu não tenho lugar no lugar de ti. Começo a correr assim que regressares.

06/04/2016

guArdare


Lava-me a pele. Conta-me o segredo. Desfaz-te em cinzas. Segura-me o cabelo. Guarda-me o anjo nas costas. Grita comigo. Conta-me o segredo. Desaparece na noite. Segue o teu caminho. Limpa-me o corpo. Bebe-me o sangue. Guarda-te dos anjos. Desenha-me o segredo. Grita com o mundo inteiro. Lava-te depois. Segura-me na mão. Cai comigo. Vai sem mim. Parte e não regresses nunca este lugar de finitude. Abraça-me na noite. Sente-me partir. Esvazia-te do mundo e dos gritos. Vive a tua dor. Segue para continuares. Não olhes para trás. Não olhes para mim. Vê-me e segue. Meu anjo segue contigo. Guardo-te na solidão. Lava-me a alma. Desiste de mim. Não importa o que fizeres. Não importa o que quiseres. Este é o meu limite. Corre sobre mim. Ultrapassa-me e não olhes para trás. Conta-me o teu segredo e depois emudece. Lava-me na chuva. Lambe-me a pele cansada. Rasga a minha angústia e desfaz-te de mim. Deixa-me no rio. Deixa-me no mar. Deixa-me ao sol da manhã. Conta-me o meu segredo. Recorda-me. Evade-me. Evade-te. Não há lugar para ti neste inferno de asas abertas. Guarda-me na noite enquanto partes. Desparece de aqui. Segue para continuares e nunca, mais vez nenhuma, olhes para mim.

05/04/2016

anGoisE


Pensei em começar tudo de novo. Fechar os olhos. Deixar as sombras passarem diante de mim e recomeçar. Anjo e demónios digladiam-se dentro de mim e são as suas vozes que oiço em gritos desvairados dentro da minha solidão. Pensei em começar tudo do princípio. Voltar ao lugar onde a minha existência teve o seu primeiro sentido, em que a minha desistência teve a sua primeira vitória, em que a minha desgraça me dignificou. Queria poder começar de um lugar onde eu não estava. Na verdade, todos os lugares em que estive as vozes não me abandonaram. Na verdade, de todos os lugares em que me vi, as sombras não me deixaram. Pensei em começar de novo mas sem estar lá. Sem ser eu o começo nem o fim. Estar sem estar e ser sem ser. Percebi, no momento em que me olhei no espelho da mesma sala, na mesma casa, na mesma morte, que não se pode começar do princípio vez nenhuma. As sombras são o meu começo, a minha angústia o meu eterno fim.

23/03/2016

abSentiA


Queimo na pele a tua ausência. Sinto a tua boca mergulhada na minha distância e recordo a dimensão eterna que residia no teu beijo. Rasgo a tua voz na violência do meu pensamento. Corto o sangue que me escorre das mãos e deixo de ver a nitidez de mim. Danço absolutamente ébrio na intensidade esquecida da noite fera que me traz até ti e me deixa depois completamente só. Verto-me no asfalto e espero que alguém me dilacere e me desfaça de encontro ao gelo da estrada. Evado-me na certeza de que tuas mãos me cobriram os olhos de todas as vezes que não pude chorar-te, me calaram o grito de todas as vezes que não pude chamar-te, me seguraram o corpo de todas as vezes que me deixei cair na imensidão da insuportável solidão de ser eu mesmo dentro de mim. Queimo na pele a marca da tua ausência. Olho em redor e não vejo muito para além do nevoeiro que chega com a manhã dos dias que continuam a vir, um atrás do outro, de passos mansos e agressões atrozes. Deixa-me recordar-te até ao dia em que o meu sangue se esqueça de respirar. Deixa que teu beijo percorra todo o meu corpo e eu padeça de tanto te amar. Emolo-me na certeza de que não regressas mais a mim.  

Sossega. Hoje já chega. Não tenhas pressa. A noite já começou. Já quase que não faz frio. Ainda há gelo no chão mas quase que já não faz frio. Podes passar na sombra e esperar que o dia comece. Podes olhar para mim e mesmo que não me vejas não precisas ter receio. Vou estar no mesmo lugar em que me deixaste.

12/03/2016

"I don´t want to wait in vain for your love"


Creio que estou a chegar ao final da minha capacidade de te esperar. Queria ter podido esperar mais tempo. Queria ter podido ser melhor mas só consigo ser melhor quando estás e tu não estás aqui. Procurei-te na cidade pela noite dentro a ansiar a tua voz. Perdi-te no começo de cada rua, no virar de cada esquina, no passar de cada fracção de tempo. Perdi-te irremediavelmente da primeira vez que te toquei. Perdi-me indefinidamente da primeira vez que me olhaste. Morri na certeza de que existir era apenas em ti e por isso sou hoje o limbo do que existe aquém do que existe em ti. Queria ter podido ser melhor. Prometi que iria sempre ser melhor e não cheguei até ti. Estou a vaguear na aresta da minha capacidade e temo que não tenha mais por onde andar. Espero-te, em vão, desde que comecei a amar-te e espero-te ainda e depois e antes e sempre. Mas creio que não terei mais possibilidade de continuar. Sabes, agora que tudo em mim parece querer desaparecer, deixo de novo de ser o suficiente para te chegar. Compreendo tudo o que acontece em ti e abandono tudo o que acontece em mim na esperança eterna de que um dia possas voltar a cruzar-te comigo no começo de uma qualquer rua numa qualquer noite em que minha alma não seja apenas uma sombra de mim.

gaIvotA


Está tudo a desparecer. A desvanecer. A transparecer a antiguidade e o desespero. As paredes choram o salitre e a tinta desfaz-se na inteireza do pó que já não abandona este lugar. Caem as madeiras e os tectos. Rangem os soalhos e as desgraças. Reza-se a história e desaparecem os personagens. Aqui e ali há um resto de uma memória apagada no rastro frustre das asas de uma gaivota adoecida pelo ondular do mar. Nada faz falta aqui se não um recomeçar. Do princípio. Longe deste fim que se aproxima com a velocidade das coisas que se não desejam. Queria partir e não consigo. Meu corpo está preso nas garras do que não chegou a ser a vida que era suposto ter sido vivida. Está tudo a desvanecer. A cair. A apagar-se. Vai ficar apenas este enorme lugar onde tudo se passou como se nada tivesse sido. Cedem as madeiras e cedem os telhados sobre o voo de uma gaivota envelhecida. Gritam as ondas e grita o vento e gritam as vozes dos que morreram aqui e deixaram tudo por terminar. Cai a tinta das paredes e caem as paredes dentro de si mesmas e levam-nos consigo. As memórias são apenas pó do que restou aqui a marcar os lugares certos das coisas incertas. Queria ter podido ter a liberdade de partir para sempre e para sempre estou condenado a ser o pó deste lugar. Indefinidamente, até que a minha existência seja, serei o lugar em que tudo desvanece e queda, como uma gaivota que em pleno voo desiste de existir e desafia a gravidade até encontrar o que possa ser o seu lugar certo para a queda.  

09/03/2016


Morreste. Entendo agora que morreste. Tudo o que existia desapareceu.
Ficaram restos de sangue e de cinzas.
Desapareceste.
Para sempre.

02/03/2016

en pAssAnt


Não sei o que é este movimento que acontece em mim de cada vez que desapareço. O mundo deixa de me encontrar e eu sento-me e espero. Trespassam-me as pressas dos outros que me não vêem e me atravessam como se nada estivesse no seu caminho. Como se eu não estivesse no seu caminho. Como se eu não existisse junto deles.

De cada vez que desapareço, o mundo deixa de me saber e eu sinto a liberdade de poder ser qualquer coisa para além disto. Revejo-me fora do que existe em torno de mim e sobrevoo tudo o que acontece como se não estivesse.

Vivo sem viver. Existo sem respirar. Quedo sem sequer conseguir andar. Não sei o que é isto que acontece em mim mas encerro as muralhas que durante anos construí e fecho-me na torre. Nada me toca aqui. Nada me pode ferir aqui. Olho quem passa e quem me ultrapassa com a mesma inocência com que me vejo a morrer. Sou uma sombra do que resta acontecer em mim e espero enquanto o mundo fica cego do meu respirar e me abandona na esquina da vida que fica inteiramente por viver.

nãO me Fales


Não me fales da morte enquanto aqui estou. Não me olhes como se soubesses que o meu mundo vai terminar. Não to permito. Deixa-me estar dentro deste lugar que reservei à minha sólida angústia de me saber vivo enquanto morro. Deixa-me caminhar e deixa-me correr até eu cair. Deixa-me segurar nos dedos a areia fria da praia que ainda existe em mim e deixa-me dançar como se amanhã a música não fosse terminar. Deixa-me gritar as vezes que eu quiser, o nome que eu quiser, e não me julgues. Nunca me julgues. Quero ser quem decidi ser até ao fim do que começou em mim. Não me questiones, não perguntes porquê. Deixa-me ir assim, na ilusão de que não parti e na certeza de que o mundo continuou a acontecer apesar de mim. Deixa-me sonhar na minha infinita tristeza de ter de partir, mas permite-me ainda sonhar. As vezes que eu quiser, as vezes que eu precisar, deixa.me sonhar que ainda estou aqui e que meu caminho pode ser mais longo, pode ser mais inteiro, pode ser mais do que apenas isto. Deixa-me olhar-me no espelho para me recordar quem fui, não este corpo que vejo agora aqui de fronte da minha finitude, mas aquele que bailou a vida sem ter medo de cair. Lembra-te, nunca tenhas medo de cair. Há sempre areia para te segurar nos dedos. Há sempre mar dentro de ti. Dentro de nós. Dentro do olhar que encerro e se despede em mim. Não me fales da morte enquanto ainda resiste uma réstia de vida em mim.

22/02/2016

seguro nos dedos a versão mais recente da minha sombra. a silhueta expressa na parede sou em sem ser eu mesmo mas apenas o reflexo enovoado de qualquer coisa que terei sido. falta-me a força quando me vejo reflectido nas sombras das luzes que se apagam dentro de quem podia ter chegado a ser. desfaço-me em silêncio e carpo o choro magoado de quem nunca teve a coragem para deixar o resto da sua silhueta quebrada de lado para poder partir.

31/01/2016

pRaia


Caminho dentro da minha solidão. Atravesso a praia antiga ignorando todos os gestos dos outros. Reconheço as suas vozes e assumo a surdez plena de quem já não está. Interpreto os gestos nas suas histórias de serem quem são, naquele preciso momento, e remeto tudo para um lugar fechado em que nada, para além de mim, pode acontecer. Caminho a minha solidão inteira no bater das ondas de inverno. Gaivotas caminham a meu lado como se soubessem o segredo que se me desfaz na pele. O silêncio que vem do mar abraça-me de deixa-me cair na areia. Só até que o momento cesse e eu desapareça por completo sou o segredo do que resta do caminho que atravesso. A chave para ignorar o que a vida transporta dentro destes corpos que partilham este espaço com a minha existência. Queria poder, por um momento, esquecer a minha humanidade e ser-me a espuma que a onda entrega à areia fria. E esse seria o auge da minha caminhada.

29/01/2016

é quase certo que este é o meu lugar errado. quase certo que já há muito que devia ter começado a correr. o caminho está a chegar ao fim e não há mais terra depois deste abismo aberto por ti. escavei até ao final do que pude ser e agora já nada pode permanecer imutável. agora é o tempo de tudo isto terminar de vez. e eu começar a correr.

28/01/2016

princípio do mundo


Quero silenciar as vozes que desesperam dentro da minha memória do tempo. Navegar à deriva num barco sem vela abandonado sobre as vagas na tempestade das ausências. Afogar-me na lâmina do frio da solidão que começa com o princípio da noite. Devastar-me no peso inteiro das coisas por saber. Segurar na ponta da tua pele e reconhecer-me absolutamente despido sobre a solidão da minha própria ausência.

Queria poder encontrar-me nas vozes que sussurram todos os nomes de todas as coisas dentro de mim. Segurar-me no abraço das letras caídas sobre muros ruídos nas chuvas que avassalam a minha estrutura. Desesperar-me na imensidão do vazio que se abre sobre o fim das coisas que começaram aqui. Voltar-me para dentro até me ver reflectido no espelho da água parada de uma qualquer maré fria da madrugada. Vestir-me de capim e sussurrar-me na pele a minha própria distância. Quero ser o que resta de mim até desparecer.

Quero silenciar-me dentro de mim e abandonar-me na maré. Só até reencontrar o princípio do mundo.

24/01/2016


Desta vez talvez vá começar pelo fim. Pego no término das coisas que foram e começo do princípio. Apago o quadro de ardósia e mergulho as mãos no giz. Balanço-me sobre as arestas das certezas incertas e deixo-me cair no chão.

Não importa se faz frio agora. Abro os olhos e sei o caminho. Recomeço do princípio. Desta vez não vou ter medo. Basta começar por um qualquer lado, basta acertar o passo. Não vou pedir-te para esperares por mim nem que teu passo chegue ao mesmo tempo que o meu.

Desta vez vou começar por onde devo começar. Pelo fim das coisas que podiam ter sido. Pego nelas, com a liberdade que fica nas coisas que se amam até ao fim dos dias, e farei de tudo para que não quedem, para que não cessem de existir em mim.

Desta vez talvez vá começar por mim. Talvez não olhe para trás para ouvir as mesmas melodias. Vou deixar o lugar em que me deixaste de todas as vezes em que não estavas e vou ser eu sem ser mais ninguém em mim. Desta vez vou começar em mim para chegar ao lugar em que tudo acontece.

Não importa se a maré está baixa e não importa se morro amanhã. Escondo-me por detrás da névoa que a madrugada encerra sobre si até que o dia desperte dentro do que podemos ser.

Deixa-me regressar a mim. Desta vez recomeço aqui. Nada ficará ao acaso. Nenhuma letra de nenhuma palavra cairá por terra. Desta vez eu não cairei por terra.

Sobrevivi às tempestades de areia que me assolam o deserto que existe em mim. Sobrevivi à ausência do que resta de mim e reencontrei-me nos lugares dos passos que só a dança pode devolver à minha existência. Hoje danço sobre mim e é aqui que começo.

Desta vez talvez vá começar do princípio das coisas que nunca terminaram em mim.

20/01/2016


Podes ser o lugar onde o meu fim se inicia.
Talvez possas ser o que nunca foi mais do que o que estava previsto ter sido.
Sou o lugar onde encontras o silêncio e onde existes sem cessares de respirar.
Sou o lugar onde podes sempre regressar, sem nunca chegares realmente a partir.

diVino


Ficas a planar sobre minha pele de cada vez que partes. Teu corpo fica apenso à memória de mim em ti e deleito-me no sabor que emerge da tua sede. Perdoa se não sei mais que isto. Perdoa se não preciso mais do que isto. És a melhor parte do que acontece em mim e abençoa-me Ele que te deixa depositar tuas asas sobre o meu respirar.

10/01/2016

fracÇão


Falta apenas um segundo. Depois tudo cessa.
Falta apenas menos do que um segundo e tudo termina aqui.
O teu corpo dentro do meu corpo não vai ser nada mais do que a memória vivida de um passado esquecido.
Não consigo ver para além deste escuro desta noite que sempre foi a cor que tiveste aqui.
Falta apenas o tempo de te dizer. Adeus.