O tempo tem sido
gentil aqui.
Nenhuma intempérie
atravessou as mesmas veredas do que eu. Desci sobre o centro da terra,
calcorreando os seixos negros antigos sob os pés descalços.
Senti a terra correr como uma corsa liberta à
gravidade das montanhas. A água escorria sobre os socalcos roubados às escarpas
infinitas. Lá em cima, no cume mais a norte, o mar cantou para embalar as
nuvens que embatem e se esbatem nos picos.
Havia água a
escorrer em cada canto. A terra inteira a mergulhar na água, na sua demanda ou
no seu afastamento. Acabei por me quedar
nas levadas junto com as folhas que anunciavam um outono antecipado.
O tempo foi
gentil aqui.
Sobrevoei as
escarpas negras e escarlates e as cinzas esconsas. Carreguei o corpo no basalto
e desfiz-me na praia. Contei os seixos negros que me acariciavam na pele e
roubei a liberdade ao sol nas asas de um francelho.
Abandonei-me
como só o mar sem fim permite e esqueci o continente.
Por breves momentos, o
tempo foi gentil comigo.