23/02/2012

Faz-me falta olhar para ti. Olhar para ti para ver o que vês em mim. Faz me falta ouvir-te dizer absolutamente nada quando chegas e quando partes. Quando olhas para mim mergulhado em silêncio e me abandonas de olhos cheios dos nadas que te e me compõem. Sou o reflexo do que vês e nunca sei o que é, só porque não me dizes rigorosamente nada. Há já tanto tempo. Faz-me falta saber-te mas a tua distância ditou o reflexo do que deixei de ser para ti e esse silêncio, o que vem daí, só a mim pertence.  

19/02/2012

ch.e.gar.a.tem.po

Pensei que dava tempo para chegar a tempo. Apesar de ter feito o tempo parar por aqueles breves segundos, não foi o suficiente. Não cheguei a tempo e isso agora é tudo com o que posso contar. Era suposto ter chovido hoje para evitar o que o verão vai trazer. Era suposto ter acontecido tudo hoje mas nada chegou a ser. Não cheguei a tempo. Como sempre.
Ainda assim quis recordar exactamente há quanto tempo ando a cavalgar este deserto e não consegui. O tempo disse-me, em tempos, quanto tempo já tinha passado pelo tempo mas esqueci. Deixei de conseguir lembrar. Como tu deixaste de conseguir lembrar.
Talvez também não tenhas conseguido chegar a tempo do tempo. E por isso não te consigas recordar mais de nada do que o tempo te trouxe e te levou.
Também pode ser que tenhas sempre chegado a tempo do tempo mas que não tenhas querido nada com o tempo porque este passou por ti sem te dizer adeus uma única vez e tu não soubeste nunca perdoar. Ainda hoje não o sabes. Embora já nem te recordes do que é que não te consegues esquecer de nunca perdoar.
Hoje parece que é já uma eternidade que fez com que o que restava do tempo me deixasse cair na areia quente. E como tu não recordas nem queres mais nenhuma vez recordar, também eu hoje me esqueci de há quanto tempo ando por aqui. Mas não teve importância, como vês. Nunca chego a tempo. E hoje, não foi possível haver qualquer excepção apesar de eu ter conseguido,
por breves ridículos momentos,
ter conseguido sossegar o tempo.