13/12/2019

se me pudesses tocar, 
neste preciso momento, 
só encontrarias vazio.
sabes que há um silêncio indelével que só vem com a noite?
a cidade reduz o seu pulsar e as aves adormecem sobre as árvores despidas do inverso do inverno a anunciar o fim de mais um dia. 
o tempo é como o vento rasteiro que se arrasta hoje pelas ruas enquanto o frio se eleva ao esplendor máximo da insanidade. 
tens o corpo a tremer e as mãos vazias. 
procuras o silêncio que te abraça enquanto a noite fica, 
e permanece, 
lenta e lânguida, 
até que venha de novo a manhã. 
sabes que há uma noite que não vai terminar antes do dia recomeçar no cenário bélico que acontece em ti de cada vez que silêncio se rasga...

02/12/2019

deZembrO

é a margem deste rio que me salva de mim quando me aproximo demasiado da aresta da minha culpa
toco a água com a certeza da pele a arrefecer no lugar que fica entre minha angústia e minha distância.
a chuva, hoje, permitiu-se dar tréguas no seu combate e o sol permitiu-se ficar
sem medo, 
neste dia de um dezembro que se anuncia lento e escarpado.
é na margem do rio que me salvo de mim mesmo quando toco no frio da minha insuficiência
da minha incapacidade
da minha eterna impossibilidade de ser lugar onde o sol pára para tocar. 

toco-me na água 
na verdade
para confirmar a minha condenação.