(...)
beneath the stains of time
the feelings disappear
you are someone else
I am still right here
(..)
if I could start again
a million miles away
I would keep myself
I would find a way
Hurt
Johnny Cash
Estás longe.
Num lugar de mar alto onde eu já não posso chegar.
Num lugar onde já não há terra para eu ter lugar. Onde já não posso ouvir-te na voz porque já não há nada que me queiras dizer. Onde minhas mãos está vazias e já não podem tocar. Onde o silêncio da distância ausente transfigurou tudo.
Já estou demasiado longe.
Cresce-me um fogo por dentro. Arde-me na voz. Arde-me no peito. Queima-me na ponta dos dedos que sinto desfazerem-se no vento que assola esta terra a oriente.
Desenho linhas que não consigo ver, usando a sombra do sangue da tua ausência...e espero que não chegue a suster-me no apelo do abismo.
Ou talvez espere chegar à orla da rocha negra dançando como um dervixe, na esperança que D me segure nos dedos de cinza e me traga de volta ao lugar anterior a este lugar que é apenas um lugar vazio.
Sinto a crueza cruel do (des)sentido deste lugar que, por tu não estares, deixou de fazer sentido.
Diluo meu sangue na sombra do teu, enquanto procuro nas mãos as linhas para desenhar meu passo seguinte.
Por vezes temo não conseguir avançar pois tudo em frente, atrás, de lado, tudo o que meu olhar alcança, está a arder. Sou eu quem está a arder.
Outras vezes, sei que vou dançar até encontrar as clareiras e as linhas desenhadas com as cinzas que trago na voz, até o (des)sentido voltar a ser lugar de sentido.
O vento mantém um fogo a arder-me por dentro. Até que eu possa mudar de lugar, até um lugar fazer sentido.
Esvazio a casa.
Dia após dia. Sem demorar.
entrego
desfaço
elimino
esqueço
destruo
perco
cedo
dou
Remeto para qualquer lugar, mais um fragmento de mim. Um de cada vez. Mais um de cada vez.
Não sei bem o que vai sobrar quando tudo terminar.
Agora ficam apenas as paredes
o tecto
o chão
e as janelas fechadas na penumbra.
Esvazio uma casa. De novo.
Até não restar mais nada.
Estou parado no meio da estrada.
Os carros passam de ambos os lados de minhas mãos. Por dentro e por fora. E já não sinto quando me atravessam. Já não sinto nada. Parece que tudo parou na ausência. Talvez seja a tua lonjura que desfaz a minha (des)presença. Estou distante da distância de ti. Tu estás infinitamente longe de mim.