Encontro-te no resto do carvão
que guardo nas pontas dos dedos. Estive a desenhar-te na chuva enquanto
esquecia a imagem de ti. Estive a ver-te caído entre as letras, entre as palavras
das páginas esquecidas entre gavetas e as estantes perdidas nas ruas que te
levaram para longe de ti.
Guardo-te no carvão dos dedos
enquanto te escrevo no desenho do ar. Sopro o pó negro da pele sobre o papel arrefecido
pelo cheiro da chuva e é o que eras que aparece escrito.
És as palavras todas que estão
por dizer, por escrever, por saber. És o que falta acontecer em ti e fechas os olhos
de carvão enquanto a chuva cai. Talvez possas perder o medo de ti e te
reencontres nas ruas sem teres de olhar para trás.
Talvez te (re)escrevas com o carvão
dos olhos na pele dos dedos e (re)saibas desenhar-te caído sobre as páginas de
ti.