14/12/2010

Estava parado à porta. Frente da única porta que havia naquela casa velha.
Estava parado a esperar o tempo.
A esperar a imensidão das coisas que existem
dentro da possibilidade dentro do vazio
(das coisas).
Estava parado à porta e eu fingi que não te via.
Fingi que não eras tu ali porque de cada
vez que tentava lembrar-te em mim as memórias eram todas
difusas, confusas, profusas.
Esvaíam-se como areia por entre os dedos.
Não.
Como água ensanguentada
por entre os dedos.
No centro das mãos.
No ponto mais ínfimo da minha/tua pele.
Eras tu quem estava parado à porta
e eu segui no caminho oposto
a fugir de me saber
ali.

10/12/2010

estou seguro que o inferno começa, precisamente , aqui.

08/12/2010

empty box - morphine

tore open the package it was an empty box
no meaning to me just an empty box
sender was a woman
she said she's sending me everything I
I never gave her before
she said: Fill it up and send it back,
so I sent her back an empty box.
A big mistake, sent back an empty box
half in the shadows, half in the husky moonlight,
and half insane just a sound.

in the night I enter a valley so dark
that when I look back I can't see where I began,
I can't see my hands, I don't even know if my eyes are open.
In the morning I was by the sea
and I swam out as far as I could swim 'til I was too tired to swim anymore
and then I floated and tried to get by strength back.
Then an empty box came floating by,
an empty box and I crawled inside
half in the shadows, half in the husky moonlight
and half insane just a sound
alright

musgo

Lembras-te quando íamos apanhar musgo?
Lembras-te de como ficávamos pequeninos, a ver-te cirandar de um lado para o outro, a preparar o ancinho, a segurar o cesto com as mãos secas e cheias de rugas, tranquilas como a casca das árvores que nos ensinavas a dizer o nome?
Nós pequeninos a ver-te terminar de preparar tudo. Na ânsia que vem pela palavra que se tanto deseja ouvir. “Vamos”, sorrias tu a falar. “Vamos!”
Subíamos a serra com pernas de flecha, quentes por dentro do peito, com magia na ponta dos dedos. Corríamos como se a serra fosse mais de que uma serra, fosse um lugar que só nós tínhamos, que só nós podíamos conhecer.
Enterrávamos as mãos pequeninas na terra fria e sentíamos o calor a chegar às faces já rosadas. De botas até ao joelho, cachecóis e gorros, segurávamos o olhar enquanto que tu, com dedos de árvore e mãos mágicas, retiravas o musgo das pedras e colocavas no cesto. Os nossos olhares suspensos no nevoeiro da manhã na certeza de que ali, naquele preciso momento, tudo o resto era possível.
Com as nossas mãos pequeninas a segurar-te as pontas do casaco e do cesto e das luvas e das cascas de árvore, caminhávamos a sorrir as palavras todas, já sem pressa, de regresso a junto da lareira.
Depois, viria o tempo de colocar o musgo sob as figurinhas de barro pintado que tentávamos descobrir quem eram, sem perguntar, a ter vergonha de perguntar as coisas que se devem saber sempre mas que se querem ouvir, vezes e vezes sem conta.
Lembras-te quando éramos assim e o mundo fazia sentido?

06/12/2010

Reduzir-se às cinzas que cabem numa gota de chuva era só o que era necessário para o dia de hoje.