28/08/2018

cOmo Se

O tempo escorre-me na pele. Secam os lábios e os dedos no calor da insanidade. Perco-te no momento exacto em que te sinto. Perco-me na certeza de não haver retorno desta levada. 
O tempo chove-me nos dedos e no pensamento. Corro atrás de ti como se fosse a última possibilidade de te perder. Como se não houvesse alternativa e tudo se tornasse a razão única de ter chegado até aqui. 
Escorre o tempo por dentro de mim enquanto morro lentamente. Seca-me a alma no momento em que te perco em definitivo e o tempo se torna uma parte inteira da chuva que me ensandece.

cOrpUs

Meu corpo é o lugar em que respiras. em que retomas o lugar da queda sobre o teu abismo. em que te reencontras. em que te esqueces, 
por um momento efémero,
do que és antes de chegares aqui.


mAio

navegas-me na pele até eu ser só sangue.

desfazes-me no tempo até eu ser só tinta.

arrasto-me no lugar de ti até eu ser só pó.

ficas a inundar-me a alma até eu ser só angústia.

16/08/2018

NieNte

Não te reconheço no lugar em que o abismo que se abre entre o que somos me conduz ao delírio.
Escrevo as linhas que se apagaram de minhas mãos. Escrevo nas mãos que desapareceram nas linhas em que me esculpi até ser.
Não conheço este lugar de não encontro entre meu caminho e o teu. 
Não me reconheço no que é esperado de mim e não sei como ser de forma a que eu não aconteça desta forma em mim. 
Quero erguer-me sobre as labaredas do que se arrasta na minha mágoa até terminar em cinzas por sobre a terra molhada. 
Não te reconheço no lugar que resta na angústia de ser o que sou e não escrevo as palavras que podiam caber nas linhas em que desapareço.