Morreste.
Teu corpo não podia mais. Secou. Sofreu. Desligou-se da dor. Parou.
Tu ficaste.
Ficas sempre.
Invejo o vinho que te acaricia os lábios
Cobiço os dedos que seguram os copos e as palavras e os corpos e as vozes
Ambiciono os caminhos que conduzem aos lugares onde nunca se chega a chegar
Tenho sede do mar das mãos que são tuas e da fantasia que é a minha
e seguro-me no calor errado deste outono para calar a dor
para serenar a ânsia
para alimentar a fome
para reconhecer o desenho do ar dentro do meu peito
Reconheço os grilhões onde sucumbiu a minha liberdade e o vazio em que caí na tua paixão
Invejo, agora, os lábios que te acariciam o vinho e reconheço que já não sou digno de ter lugar
na imensidão de tuas mãos
na ruidosa calamidade do teu sentir
no caminho que conduzia ao lugar de ti.