27/10/2023

Morreste.

Teu corpo não podia mais. Secou. Sofreu. Desligou-se da dor. Parou. 

Tu ficaste. 

Ficas sempre. 


09/10/2023

Invejo o vinho que te acaricia os lábios 

Cobiço os dedos que seguram os copos e as palavras e os corpos e as vozes

Ambiciono os caminhos que conduzem aos lugares onde nunca se chega a chegar

Tenho sede do mar das mãos que são tuas e da fantasia que é a minha 

e seguro-me no calor errado deste outono para calar a dor

para serenar a ânsia

para alimentar a fome

para reconhecer o desenho do ar dentro do meu peito

Reconheço os grilhões onde sucumbiu a minha liberdade e o vazio em que caí na tua paixão 

Invejo, agora, os lábios que te acariciam o vinho e reconheço que já não sou digno de ter lugar

na imensidão de tuas mãos

na ruidosa calamidade do teu sentir

no caminho que conduzia ao lugar de ti.