07/10/2015

SadNess


Se fosse possível
descrever a tristeza que sinto
hoje aqui,
dentro de ti,
diria que foi o poema que morreu
e o mundo inteiro se revestiu de negro.

viTae

Encosta o teu peito à minha mão. Vamos tentar respirar juntos. Estou a morrer por dentro. Não digas a ninguém mas o meu corpo está doente, está a cair, está sem fé. Encosta o teu peito ao meu peito e vamos sobreviver juntos. Guarda o que restar da tua esperança e segura-me com a ponta da tua língua. Abraça-me enquanto me tocas por dentro e me fazes sentir vivo. Encosta a tua mão à minha testa e beija-me por dentro, no lugar onde só tu sabes chegar, onde só tu podes chegar. Vamos partir juntos mas tu ficas enquanto eu já não vou poder regressar. Encosta a tua pele à minha coragem e ouve-me a partir. Depois vive o que nos faltou viver.

desespero


Podemos ser o milagre que acontece quando a desesperança é tudo o que permanece?

seGunDo


Leva apenas um segundo a desentorpecer a revolução visceral que acontece dentro de ti. Leva apenas um segundo se puderes aguardar. Começo por retirar a carne das unhas. Depois rasgo-te o peito com a navalha que me veleja a pele. A seguir corto-te o que restar do cabelo até perderes a força. Depois ajoelho-me nas tuas costas e peço-te perdão baixinho, em segredo, para que quase não me possas ouvir enquanto a dor te doer em todos os cantos da tua violência. Entoo uma melodia de embalar enquanto te flagelo com as lanças que me consomem os pensamentos. Cubro-te com um pano negro para esconder o sangue enquanto gritas por dentro. Transformas-te no animal que tens escondido dentro da tua angústia depois de todo o tempo que navegou por entre nós. Recordas os mortos que te fazem falta e cais de joelhos a meu lado. Podemos chorar aqui que ninguém nos ouve. Podemos acabar de dilacerar o que resta de nós nesta vida morrida sem ter sido vivida. Perdemos demasiado tempo a tentar perceber o porquê de sermos assim. Perdemos demasiado tempo. Resta apenas um segundo. Um segundo para nos refazermos dentro da miséria que reside em nós e a recomeçar a tentar viver.