Leva apenas um segundo a
desentorpecer a revolução visceral que acontece dentro de ti. Leva apenas um
segundo se puderes aguardar. Começo por retirar a carne das unhas. Depois rasgo-te
o peito com a navalha que me veleja a pele. A seguir corto-te o que restar do
cabelo até perderes a força. Depois ajoelho-me nas tuas costas e peço-te perdão
baixinho, em segredo, para que quase não me possas ouvir enquanto a dor te doer
em todos os cantos da tua violência. Entoo uma melodia de embalar enquanto te
flagelo com as lanças que me consomem os pensamentos. Cubro-te com um pano
negro para esconder o sangue enquanto gritas por dentro. Transformas-te no
animal que tens escondido dentro da tua angústia depois de todo o tempo que
navegou por entre nós. Recordas os mortos que te fazem falta e cais de joelhos
a meu lado. Podemos chorar aqui que ninguém nos ouve. Podemos acabar de
dilacerar o que resta de nós nesta vida morrida sem ter sido vivida. Perdemos demasiado
tempo a tentar perceber o porquê de sermos assim. Perdemos demasiado tempo. Resta
apenas um segundo. Um segundo para nos refazermos dentro da miséria que reside
em nós e a recomeçar a tentar viver.
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