27/09/2015

ilHa


O tempo tem sido gentil aqui.
Nenhuma intempérie atravessou as mesmas veredas do que eu. Desci sobre o centro da terra, calcorreando os seixos negros antigos sob os pés descalços.

Senti  a terra correr como uma corsa liberta à gravidade das montanhas. A água escorria sobre os socalcos roubados às escarpas infinitas. Lá em cima, no cume mais a norte, o mar cantou para embalar as nuvens que embatem e se esbatem nos picos.
Havia água a escorrer em cada canto. A terra inteira a mergulhar na água, na sua demanda ou no seu afastamento. Acabei  por me quedar nas levadas junto com as folhas que anunciavam um outono antecipado.
O tempo foi gentil aqui.
Sobrevoei as escarpas negras e escarlates e as cinzas esconsas. Carreguei o corpo no basalto e desfiz-me na praia. Contei os seixos negros que me acariciavam na pele e roubei a liberdade ao sol nas asas de um francelho.
Abandonei-me como só o mar sem fim permite e esqueci o continente.
Por breves momentos, o tempo foi gentil comigo.

Sem comentários:

Enviar um comentário