03/09/2020

No vento que chega com o fim do dia, sinto como a voracidade de baco toma posse do lugar que antes era o lugar de mim. Flutuo na pele. Desloco-me do corpo e vagueio, noite adentro, como se desenhasse o mar inteiro nas mãos que te (quase) tocam. Entoo uma melodia que mais se parece com uma oração. Repito teu nome como se a palavra pudesse ser a única salvação possível quando é o ar que se desloca de dentro do corpo. Danço na apneia que começa precisamente no lugar onde te deixei da última vez. As palavras seguem nas ondas das marés que entoam a canção que se deixa a repousar na pele. Termino o dia com o corpo vazio e ébrio, na ânsia de se poder salvar no caminho de regresso ao lugar em que sou (quase) eu.