29/12/2015


Perdoa-me
amor
enquanto te devasto na agonia da violência que habita em mim.

Perdoa
amor
a distância que vai deste lugar em que me desfaço na miséria de ser isto que não chega para te ser

Perdoa-me
amor

se te afogo no fogo que emana das minhas mãos quando te violento

Perdoa
se puderes

tudo o que eu fui sem ter chegado a saber ser

28/12/2015

o inferno começa no devaneio do inverno

07/12/2015

sangUinae


Não consigo mais. A dor por dentro é demasiado intensa. Sucumbo perante a agonia do corpo. Não tolero mais tudo o que acontece em mim e o desejo de desaparecer torna-se cada vez mais premente. De cada vez que pego na lâmina para desferir sobre mim a angústia do fim, algo se desvanece e o acto foge do gesto e acabo por regressar ao princípio de tudo o que recomeça. Quero deixar-me aqui e não regressar. Quero deixar de sentir e de cada vez que a lâmina me tocar fria por dentro da carne desta pele tenho a sensação – por mais ínfima que dure no tempo – que posso fugir de aqui. Não consigo mais. Quando deixamos de ser o que sabemos ser é tempo de seguir. Deixo aqui a lâmina e desfaço-me na angústia de ser eu aqui, por dentro de todos os meus gestos.

02/12/2015

aSfalTo

Silencia as minhas mãos enquanto alastro as asas sobre o asfalto.
Há neve a escorrer-me nos ossos. Sopra.
Crava a tua sede na minha agonia e eleva-me ao lugar reservado aos que morrem sem saber.
Segura-me na ponta dos teus dedos de fogo enquanto refaço o meu nome nas cinzas que permanecem debaixo do teu caminhar.
Há neve a corroer-me a pele. Sopra.
A estrada percorre todas as direcções possíveis e ainda não conheço o caminho que escolhi.
As minhas asas cobrem o asfalto coberto de gelo e as minhas mãos gritam pelo silêncio que vem de ti.
Sopra o resto das minhas cinzas e guarda-me no teu caminhar.