17/07/2020

o calor expande-se
como asas negras,
dentro do meu peito.

15/07/2020

You've been so long
Well it's been so long
And I've been putting out fire with gasoline
Putting out fire with gasoline

Cat People
Putting out fire with gasoline

11/07/2020

fecho os olhos
dispo a roupa
seguro os pés despidos na madeira aquecida pelo inferno do verão. 

anseio teus dedos a contornarem meu nome
a desfazerem-se na minha pele.

beijo-te
no silêncio perfeito 
num momento de apneia em que o mundo inteiro desaparece
por breves segundos

fecho os olhos.
mais nada existe agora. 
Passam por nós os anos que o tempo não permite fazer parar de correr. 
A vida como que voa, como que se desfaz, como que mergulha nas brechas e farpas da madeira antiga que te edificou na memória segura da minha solidão incontornável. 
Reza por mim quando teus pés tocarem nesta madeira. 
Reza por mim quando chegares a casa. 
Recordo a tua voz enquanto escrevo o teu nome sobre as linhas invisíveis da minha estreita capacidade de te manter viva por dentro. Fecho os olhos e toco as asas de corvo que viviam ansiosamente nas linhas do teu cabelo. 
Quando chegares ao lugar em que não devias estar, recorda-te de mim. Não me permitas ficar no abandono que se sente no calor infame que invade a cidade suja. 
As cordas que entoam no átrio frio da igreja conduzem-me até ao passado que deveria ter sido mais do que nos foi permitido ser. 
Naquele dia, teria trocado a minha vida pela tua. Mas a verdade é que não há mais aleluias e não vais poder rezar por mim. 
As palavras vão-se tornado cada vez mais o silêncio que vive dentro da noite. Vão-se transformando no absurdo do obsoleto. Na insignificância que reside dentro da insuficiência. 
Talvez me afogue na minha própria angústia, em breve. Ou talvez encontre formas diferentes de respirar dentro de mim.
Questiono se estarias aqui, se eu pudesse ter trocado tua partida pela minha. 
Se ficarias a aguardar por mim.
A velar por mim.
A temer por mim. 
A procurar encher o vazio incomensurável que habita a noite que é inteira em mim. 
Perdoa se já não sei falar contigo. Se o silêncio me abraça com tamanha força que me leva na fraqueza. 
Perdoa se me esqueço de viver.
Perdoa se me continuo a agrilhoar e não sou merecedora de estar aqui. 
Posso apenas prometer-te, enquanto minha voz ressoar nas paredes frias desta igreja vazia, que vou continuar o caminho como se estivesses aqui.