09/10/2021

Permaneço, 

em suspensão, 

na aresta mais fina do princípio da noite.

A cidade inteira decide começar a adormecer na melodia insane do grito dos pássaros que despertam todas as possibilidades,

todas as fragilidades,

de um destino condenado ao voo permanente para lugar nenhum.

Acendo um cigarro para me evadir deste lugar e mergulhar,

de olhos bem fechados, 

na imensidão que corre dentro de tua alma.

Nunca te irei pedir que venhas e sei que nunca me irás pedir nada.

Permito-me perder num tempo que, 

no fundo, 

nos é tão breve como suficiente, 

numa ambivalência indefinida que nos aproxima tanto quanto nos afasta e, 

por breves momentos, 

próximo da apneia, 

de olhos cerrados,

sinto que sou capaz de fazer quase tudo que me digas...mesmo quando não me pedes nada.

Procuro por ti no contorno da noite que teima em não ceder ao embalar do voo louco dos pássaros que sobrevoam o lugar reservado ao fumo que inalo e que deixa em minha pele o aroma das tuas mãos.

Permaneço, suspensa, enquanto permito que a memória faça o resto e me leve,

de olhos fechados,

de mãos atadas,

até ao lugar de poesia que se encontra guardada na ternura do murmúrio de tua voz.