quero dizer-te que nesta praia
onde nos esquecemos de ter sido, fomos tudo o que podíamos ser. mais não teria
sido possível.
o mar leva o que resta do que
ficou por dizer.
podes até ter esquecido os traços
do meu corpo, mas jamais poderás esquecer as cicatrizes do que lhe infligiste
ao longo de todos estes anos.
agora está tudo em ruína. agora
está tudo a respirar sal pelas feridas e a ceder à lei da gravidade que o tempo
comporta por dentro da vida. agora tudo apodrece e se desfaz nas nossas mãos.
quero dizer-te que é o mar que
leva as palavras e me afoga. quero dizer-te que o tempo deixou tudo por dentro
de minhas mãos e sou eu agora que ruo perante as cicatrizes de minh’alma e perante
a memória do que foste.
Oblívio tudo o que jaz perante a
luz morna desta lua de outono e entrego-me à certeza de que não posso ser mais
do que o pó apodrecido desta praia ferida.