Sinto que não sei dizer o que sinto.
Não sei sentir o que sinto. De cada vez que te ouço. De cada vez que as
palavras que dizes me atropelam por dentro e eu deixo de sentir. De querer
sentir. Sinto sem sentir. Sem poder sentir. Sinto sem saber que sinto. Não
quero sentir e por isso encerro-me sobre a ausência de mim mesmo e espero. Pego
nas minhas mãos em silêncio e seguro-me por dentro. São finos fios de seda que
me seguram por dentro. Sinto que sei que sinto o que não sei que sinto mas que
sinto sem saber como sinto, onde sinto, porque sinto e sinto que não sei sentir
como se sentir não fosse mais do que a própria existência em si e se eu não
sinto talvez eu não exista e tudo aconteça aqui sem que eu faça realmente parte
seja do que for desta confusa circunstância em que me encontro. Sinto que não
sei sentir e sinto o vazio da existência inteira que se ausenta do interior de
mim. Fico destituído de quem sou de cada vez que me penso e que me confronto comigo
e deixo de querer sentir. Sinto que há pouco a que me segurar de cada vez que
me permito sentir. Como se sentir não fosse mais do que o acto de morrer em
agonia. Guardo-me. Escudo-me. Escolho parar. Tenho as mãos em silêncio e o
pensamento em fuga. Não sei onde estou. Acordo suspenso na memória do que fui e
onde estive antes de chegar aqui. Surpreendo-me quando meus pés tocam neste
mesmo chão e desperto para o que me espera no caminho. Não me encontro em nada
do que dizes. Tuas palavras são lanças projectadas sobre a minha incapacidade
de ser mais, de sentir mais, de querer mais. Confundo-me e divido-me. Atropelo-me
e desfaço-me na estrada em que começo agora a caminhar. Olho em frente e procuro
encontrar algo a que me possa agarrar sem ter medo de me perder. Pego no silêncio
que resta em mim para recomeçar a sentir. A sentir que posso sentir sem medo do
que posso sentir. Sem me confundir. Pego na ausência de mim e sinto que posso
começar. De novo. A sentir-me.
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