31/03/2021

são os ventos do deserto a sul, que embalam a noite de hoje. 

o céu reveste-se de cores que nenhum poema pode saber descrever.

talvez seja silêncio o que repousa dentro do ruído que as hordas de areia desfazem nas melodias do pó. 

a noite aquece enquanto demora passar. o tempo a não ser mais do que o que medeia o lugar das arestas do deserto e as arestas de ti.

são os ventos que trazem o aroma a jasmim aberto sobre a esperança do sol que emerge da possibilidade do amanhecer.

és tu o céu que regressa a casa, que calcorreia o chão descalço a sentir a areia fina a entranhar a pele e a descobrir as flores brancas que inebriam o ar pesado com que a noite se enlaça. 

talvez seja um ruído demasiado intenso o lugar de ambivalência que te habita na orla do deserto que é inteiramente silêncio em ti. 

ou talvez estejas, somente, a partir com o vento que se desfaz no poema de areia num deserto de abandono.

15/03/2021

Encontrar-te-ei quando a noite fizer silêncio por dentro da casa que me guarda. 




Mas o mundo nunca se cala. 

é possível que me condenes a desaparecer,

de cada vez que me abandonas

estou parada no tempo.

o disco gira infinitamente na mesma orla. retido na ponta da agulha. a separar os acordes na imensidão do tempo. a impedir a música de o ser. 

só ruído. só interferência. repetidamente. 

estou suspensa no tempo.

repetidamente.

sento-me no lado mais fino da aresta deste cubo em que me encontro. não sei bem como vim aqui parar. se queres que te diga, nem sei bem onde estou. a verdade é que não consigo falar. não consigo dizer o que me rasga as vísceras enquanto a náusea me toma de assalto, minuto a minuto 

_para me recordar que existo ou para me recordar que morro?_ 

e me faz sair o sangue, a conta gotas, como se fossem palavras, a conta gotas. uma gota depois da outra. um sangue depois do outro. devagar. 

só ruído. repetidamente. 

creio que fiquei presa no tempo. não presa, suspensa. não suspensa, pendurada. não pendurada, retida, não retida, emersa. não emersa, presa. 

repetidamente. 

depois do ruído, quando as palavras regressarem, 

existo

ou morro?

 


01/03/2021

je ne sais plus par où commencer. 

ni où finir.

la vérité est que je ne serais, jamais, plus que cela. plus que rien. plus que la pluie que on attende sur le désert. 

le désert que s' étire sur ma peau, dans mes yeux, dedans ma tristesse. ma tristesse est indélébile, proche d' infini, cristallisé par dedans mes mains, par dedans mon corps, pleinement propriétaire de mon âme. 

je sais que je suis en trains de finir. il n'y a aucun chemin pour choisir maintenant. ça c'est ce qu'il y a pour mon désire... un désért sans fin.