15/03/2021

estou parada no tempo.

o disco gira infinitamente na mesma orla. retido na ponta da agulha. a separar os acordes na imensidão do tempo. a impedir a música de o ser. 

só ruído. só interferência. repetidamente. 

estou suspensa no tempo.

repetidamente.

sento-me no lado mais fino da aresta deste cubo em que me encontro. não sei bem como vim aqui parar. se queres que te diga, nem sei bem onde estou. a verdade é que não consigo falar. não consigo dizer o que me rasga as vísceras enquanto a náusea me toma de assalto, minuto a minuto 

_para me recordar que existo ou para me recordar que morro?_ 

e me faz sair o sangue, a conta gotas, como se fossem palavras, a conta gotas. uma gota depois da outra. um sangue depois do outro. devagar. 

só ruído. repetidamente. 

creio que fiquei presa no tempo. não presa, suspensa. não suspensa, pendurada. não pendurada, retida, não retida, emersa. não emersa, presa. 

repetidamente. 

depois do ruído, quando as palavras regressarem, 

existo

ou morro?

 


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