29/11/2012


Coloca a minha solidão sobre a tua distância
e permite-me que descanse por um minuto.

Voltei a mim para terminar em ti
e não sei mais do que isto
hoje.
se pudesse

ouvir-te-ia falar

o resto da minha vida

inteira.

24/11/2012

as mãos apertadas nos braços cerrados e a noite a cair. a emenda impossivel do erro consagrado com o silêncio de uma solidão antiga. derramar os resquicios do pó sobre a terra para lembrar como a chuva deveria cair.
as mãos cerradas sobre o abraço apertado e o reconhecimento absoluto da incapacidade total de se poder ser um pouco além do expectável.
a certeza, a infeliz certeza, de que a competência nula sobre si mergulha e invade cada fragmento da sua tentativa.
reconheço o que perdi desde que aqui regressei. reconheço e reservo o segredo do que sei ter perdido.
talvez me tenha exaurado sem saber porquê, talvez tenha entregue o corpo à sede e a alma à fome e tenha, em verdade, perdido quase tudo.
não tenho a coragem que guardava em mim enquanto frente ao deserto infinito.
não tenho a força que tinha junto ao mar de sal imenso.
não tenho a segurança que tinha no caminhar sombrio das noite bélicas.
e agora tenho medo de dormir. agora tenho medo de encontrar. agora canalizo para o lado errado de mim e não encontro a saida. não encontro o caminho. o sentido. a vontade. não encontro a noite nem o sul. invento desculpas como quem esculpe a pedra. num poço sem fundo luto desesperadamente pela tona, pela superficie.
e espero. e procuro. encerro as mãos sobre um abraço fechado
                                                                                      e canto.

23/11/2012

não te reconheço quando entro na mesma casa de sempre. és tu mas não és tu.
és o que resta de ti e o que eu vejo que resta de ti.
eu já não sou eu inteiro porque perdi o que falta agora em ti.
sou o que resta do que resta do que eras.
quando entro aqui, um dia depois do outro dia, depois da noite que vem depois do dia seguinte, um dia mais do que o dia anterior, não te reconheço em nenhum deles.
olhas para mim sem olhares para mim e sei que também já não me reconheces.
e sei que vou perder, agora e nos dias que faltam, o resto que resta de ti.