29/09/2022

São sombras dos teus gestos que reencontro na chuva que me desenha a pele. 

Fecho os olhos 

e fecho as mãos. 

Deixo-te partir

mas trago-te, 

durante um momento, 

agarrado aos dedos fechados sobre as minhas mãos. 

Um momento

é o que me basta 

para suster 

a ilusão, 

consentida 

de que

é possível 

segurar(te)

a água.

E,

logo de seguida,

largar.

27/09/2022

Não sei o que causa maior temor... que me esqueças ou que eu me esqueça de ti. 

23/09/2022

R.

Morreste nas lágrimas das minhas mãos.


Neste momento, na noite ébria, queria apenas sentir teu corpo na minha língua, nas minhas mãos, na minha pele...

Não há, neste preciso momento, mais nada que me possa fazer sentido senão a incontornável ausência de tua voz.

Emana, de mim, o aroma a lima, a mosto e a fumo e é nesse lugar, sombrio de tão vivo, que me cruzo com a certeza do lugar de ti. 

E termino, nos resquícios do verão que abandona este lugar, a ansiar pelo que me não pode chegar a ser.

22/09/2022

Penso em ti. Um cavalo selvagem, sem rédeas, a correr desenfreado pelos campos e dunas e desertos e praias. Um cavalo puro, de crinas ao vento, livre. E mesmo assim, trago-te agarrado à pele.


17/09/2022

Seguro, na língua, as pontas da tua voz ferida. 

14/09/2022

 cubro meu sangue com a infinitude da tua pele.

09/09/2022

estou seguro que as minhas mãos são feitas de areia. meus pés feitos de areia. minha pele tornada areia. dá-me um pouco de água e transformo-me em barro. deixa-me aqui e partirei com o vento do deserto. 

08/09/2022

a ausência é lugar de nada

soa uma melodia qualquer por entre os silvos do vento a entoar preces por entre as folhas despidas das árvores que se cansam de aguardar pelo outono 

dança-se, numa dança sem sentido, que se vai fazendo com esse nada que passa a ser o lugar de tudo