18/05/2021

o tempo consome o espaço que há por dentro. 

diz-me

por favor,

se respirar é,

hoje, 

um acto de contrição 

ou o caminho da salvação. 

09/05/2021

mAtEr

pesam-me todas as penas do mundo.


trazem-me alivio todas as palavras que se levantam dentro do silêncio escuro que vive dentro de mim.

06/05/2021

JAMS

fico guardado por dentro do meu corpo à espera do momento certo para sair. há uma batalha incessante que acontece por dentro de mim de cada vez que abro os olhos, de cada vez que a dor se instala, de cada vez que nada em mim parece querer obedecer. 

conto com as mãos dos outros que entram e que saem daqui e fazem de meu corpo o que entendem fazer. não consigo defender-me, não consigo encontrar mais de mim dentro desta jaula que me encerra. que me comprime. que faz esvair-me de mim enquanto o resto do mundo passa a correr do lado de fora. 

fiquei suspenso no tempo. a verdade é que continuo a ser eu por dentro - o mesmo eu. ou talvez não o mesmo mas apenas um esquisso do que fui e uma sombra do que poderia ter sido. 

ou talvez até nem pudesse ter sido grande coisa mesmo aquém deste lugar que me encerra... teria feito o quê de minha vida? chegado onde? sido quem? se não fosse isto que sou agora, seria o quê? talvez já nem sequer me lembre bem do que era antes de ter chegado aqui. os caminhos tornam-se areia e pó, humus e lama, vento e abandono. talvez já nem seja importante pensar como ontem me via mas apenas como hoje me olho. hoje sei que sou grande mas sinto-me pedaços de pedaços de pedaços de pedaços. 

sei que vou morrer em mim antes de morrer da vida e que, até aí chegar, me irei inebriar de agonia até poder desaparecer... até que esta dança lenta me leve até ao final do palco. 

e o medo começa a ser o que me abraça todas as noites enquanto toco com a ponta dos dedos os limites da jaula. agarro-me a estas grades com a certeza de que há liberdade do lado de fora. vejo como todos me olham como se eu eu fosse um artista da fome kafkiano. talvez seja isso em que me tornei. talvez não se tenha feito justiça e eu tenha sido, verdadeiramente, deixado no abandono da incerteza e do medo que os outros sentem da minha morte lenta. sinto que se esquecem de mim mesmo ainda de eu ter partido. que me calam mesmo enquanto eu ainda grito. que me ignoram mesmo quando eu os olho de frente. 

no lugar de mim, há mais do que apenas uma solidão sem horizonte. sem linhas limítrofes. sem dimensão mensurável. no lugar de mim, há medo e há tristeza e há saudade e há arrependimento. estou dentro do escuro que vem do âmago dos lugares mais negros que podem ser lugares de ser. minhas lágrimas são a minha expiação. tuas palavras podem ser a minha salvação. 

fico dentro deste lugar que me guarda, que me é, e agarro-me a uma réstia de esperança que me possa levar a um lugar menos escuro. onde o medo não me possa tocar com garras frias mas sim com dedos ternos. para ter alguma paz. para poder morrer no meu tempo. 

Coloca tuas mãos sobre a minha face. 

Desce, peço-te...Desce e toca-me na nuca. Aproxima-me do teu desespero. Afasta-me da minha ausência. 

Respira enquanto eu grito. Grita enquanto eu inspiro. 

Inala enquanto eu fecho os olhos. 

Sorri enquanto vais.