Escrevo sobre linhas invisíveis na
esperança de que as letras não desapareçam na tinta.
Invade-me uma tristeza infinita
coberta de tons azuis. Sinto a dor a
dilacerar-me o peito por dentro e as vísceras a sangrar. Doí-me tudo,
inteiramente, como nunca antes.
Imagino o que o vento trará na
maré que vai chegar e tremo na imensidão da minha angústia.
Choro em silêncio o segredo da
solidão antiga. Desfaço-me num mar de lágrimas e quase me deixo ir na vaga.
Peço-te que não me deixes agora senão
perder-me-ei. Peço-te que não me deixes cair agora pois temo não voltar a
erguer-me.
Olho para o que fica de frente
com um olhar de quem já tudo viu. Permito que o passado descanse sobre um sono
antigo.
Inalo o cheiro da terra depois
da chuva e procuro os resquícios do mar na minha pele.
Respiro fundo e encontro as palavras
na tinta da terra. Procuro reencontrar o respirar enquanto sigo em frente.