o que queres de mim
é o que habita o lado errado de quem eu sou.
a perversão. a sujidade. o odor a fel, a sexo, a cinza e a lodo.
o que amas de mim
é o que reside no lado errado do que precisas.
a mão que fere. o olhar que nega. a pele que arrepia. o dominar do tempo. o espaço ocupado com todos os balaustres da tua forma. as paredes pintadas de negro. as feras à solta nos dedos. os gritos obscenos velados no silêncio da indiferença. a ternura que mente.
queres que seja o que desejas que eu não chegue a ser.
só sendo o que não deveria ser poderei ser o que queres que seja.
o fosso. o abismo que te invoca à queda livre até
que embates na realidade do que não te posso ser e me deixas
despido
devassado
desmembrado
no golpe fatal que repousa,
sereno, omisso, desalmado, silencioso,
na profundidade atroz das tuas mãos.