12/03/2014


Tenho sal a correr-me na língua ferida.
As palavras escorrem por dentro de mim como ferrugem a queimar-me o sangue.
Sou o que resta da minha incapacidade de ser mais e envelheço na certeza de que o mar já não chega aqui.

Estou a olhar para ti e não te encontro. Estou a olhar para mim como que a querer ver-te a ti mas parece-me que nenhum de nós chegou a tempo. Olho para o que sobra da tua sombra em minha pele e esqueço-me onde estou. Inalo-te inteiro dentro do meu sangue e esqueço-me de ser. De respirar. Esqueço-me de respirar enquanto espero que chegues. És inteiro dentro de mim porque eu sempre fui tão pouco. E tu sempre foste o que havia de melhor no lugar que me sobrava. Espero-te há tanto tempo que já não sei quanto tempo passou. Na verdade, a vida não parou. Na verdade, a vida não parou em mim e eu fui morrendo. Na verdade, esqueci-me de respirar todos estes anos e agora envelheci inteira por dentro da alma. Sempre que me encontro no meio de mim és tu que me ocupas. Sempre que me vejo a olhar para mim são os teus olhos que vejo e cego por não saber como te ver e como te fazer ver-me. Esqueço-me que o lugar que reservamos ao amor morre se não nos lembrarmos de respirar. Se não soubermos dizer as palavras que ocupam os lugares do sentimento sentido. Se não soubermos lutar com o guerreiro silencioso que morre em cada um nós. Esqueci-me de te dizer todas as coisas porque nunca aprendi como dizer e o que eu não digo é sempre tão maior do que o que sei dizer. Mas na verdade, não se sabe ouvir o que está por dentro do silêncio quando não nos encontramos no tempo certo. Esqueço-me de respirar cada vez que te perco e morro em mim. Vivo eternamente de cada vez que te encontro e volto aqui. A este lugar em que não te digo tudo o que te digo e em que continuo a morrer na espera de te rever.