Estou a olhar para ti e não te encontro.
Estou a olhar para mim como que a querer ver-te a ti mas parece-me que nenhum
de nós chegou a tempo. Olho para o que sobra da tua sombra em minha pele e esqueço-me
onde estou. Inalo-te inteiro dentro do meu sangue e esqueço-me de ser. De respirar.
Esqueço-me de respirar enquanto espero que chegues. És inteiro dentro de mim
porque eu sempre fui tão pouco. E tu sempre foste o que havia de melhor no
lugar que me sobrava. Espero-te há tanto tempo que já não sei quanto tempo
passou. Na verdade, a vida não parou. Na verdade, a vida não parou em mim e eu
fui morrendo. Na verdade, esqueci-me de respirar todos estes anos e agora
envelheci inteira por dentro da alma. Sempre que me encontro no meio de mim és
tu que me ocupas. Sempre que me vejo a olhar para mim são os teus olhos que
vejo e cego por não saber como te ver e como te fazer ver-me. Esqueço-me que o
lugar que reservamos ao amor morre se não nos lembrarmos de respirar. Se não
soubermos dizer as palavras que ocupam os lugares do sentimento sentido. Se não
soubermos lutar com o guerreiro silencioso que morre em cada um nós. Esqueci-me
de te dizer todas as coisas porque nunca aprendi como dizer e o que eu não digo
é sempre tão maior do que o que sei dizer. Mas na verdade, não se sabe ouvir o
que está por dentro do silêncio quando não nos encontramos no tempo certo. Esqueço-me
de respirar cada vez que te perco e morro em mim. Vivo eternamente de cada vez
que te encontro e volto aqui. A este lugar em que não te digo tudo o que te
digo e em que continuo a morrer na espera de te rever.