Encontro-me na fenda do abismo e,
para onde quer que olhe, só vejo o cenário escarpado do meu fim de mundo. Pelas
paredes das rochas infinitas, o meu sangue desenha finos rios na paisagem negra.
Vou caindo com o corpo desfeito
em lágrimas, rasgando a pele em cada milímetro, partindo os ossos em cada embate,
caindo,
caindo,
caindo,
a obedecer, cego, à lei da gravidade exausta.
Tenho a
alma rasgada em duas partes. A parte que é de ti e a parte que é só de mim. Desfaço
o toque nos dedos quando tento agarrar o que me falta encontrar e, na verdade,
continuo caindo,
caindo,
caindo,
a obedecer, surdo, a uma
lealdade insalubre.
Encontro-me
dentro da fenda deste abismo aberto em mim e, ainda com a alma em lodo desfeita
e o corpo em chagas de tristeza, tacteio a rocha na certeza desperançada de
poder encontrar o rio.