31/05/2015

esCarpa


Encontro-me na fenda do abismo e, para onde quer que olhe, só vejo o cenário escarpado do meu fim de mundo. Pelas paredes das rochas infinitas, o meu sangue desenha finos rios na paisagem negra.

Vou caindo com o corpo desfeito em lágrimas, rasgando a pele em cada milímetro, partindo os ossos em cada embate, caindo,

caindo,

caindo,

a obedecer, cego, à lei da gravidade exausta.

Tenho a alma rasgada em duas partes. A parte que é de ti e a parte que é só de mim. Desfaço o toque nos dedos quando tento agarrar o que me falta encontrar e, na verdade, continuo caindo,

caindo,

caindo,

a obedecer, surdo, a uma lealdade insalubre.

Encontro-me dentro da fenda deste abismo aberto em mim e, ainda com a alma em lodo desfeita e o corpo em chagas de tristeza, tacteio a rocha na certeza desperançada de poder encontrar o rio.

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