Atravesso a rua na certeza da ilusão. Não sei o caminho. Ainda
assim, não paro. Não paro.
Atravesso a rua na ilusão de que o caminho certo é o que vai
aparecer. Agora. Aqui em frente. Não olho para trás. Não seguro o que fica para
trás.
Fecho os olhos, por um breve instante, só para me reconhecer
ali. Exactamente no momento que atravessam todas as memórias de mim. Desafio o
que resta da minha sanidade no calor do dia e devasto os resíduos de agonia que
acordaram, há tanto tempo, em mim.
Ouço os sinos das igrejas a clamarem meu nome e confundo-me
na maré de gente que me atravessa o tempo. Oiço risos de criança e reconheço
quem sou no que ficou antes de mim.
Atravesso a rua na certeza de não saber por onde ir. Os meus
passos avançam numa dança insane e sentem cada grão da terra como uma caricia. Toco-me
para me saber, ali, naquele momento, e oiço-me rir por dentro.
Atravesso a rua na ilusão da certeza. Não sei o caminho. Mas
não paro.
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