20/01/2014


perdoa-me. não me encontro na imagem e ti e tu não me vês.
perdoa-me. perdi-te irremediavelmente.
perdoa-me. devia ter sabido segurar-te. era a minha fortuna e não fui capaz. perdoa-me. não fui capaz.
deus sabe que tentei, como tentei, o que perdi, o que achei que tinha encontrado, o pó e as sombras, os labirintos e as espirais, os abismos e a queda eterna. perdoa-me.
não era suposto ter caido.
perdoa a minha incapacidade e o meu cansaço.
perdoa os meus olhos cegos, a minha fala selada, o meu abismo aberto sobre ti.
perdoa-me se morri cedo demais. se falhei cedo de mais. se te perdi cedo demais. mas deus estava a ver. sabe que tentei. mais ninguem me mostrou o caminho.
perdoa-me se não soube escolher o caminho certo.
eu tentei. falhei. tentei. morreste. falhei. morri.
perdoa-me.
mastigo o vidro enrolado no sangue da lingua.
lambo a aspereza da pedra enquanto a boca se dilacera.
morro de tristeza enquanto o vidro me desfaz.
a lingua enrolada na tisteza do gelo a partir. da pele a rasgar. do sal a queimar. do mar a morrer.
a morrer enquanto ondas de sangue me dilaceram por dentro e a minha boca desaparece no silêncio da chuva que parou dentro do meu corpo.
e morro.
na tristeza de estar agora aqui.