29/07/2018

desenho-te na linha do vento. junto ao mar.
procuro encontrar a razão do momento exato em que me viste nos resquícios do que sobrava de mim.
senti o silêncio inteiro dentro da tua voz e tudo o que era o resto do mundo cessou de existir.
guardei na ponta dos dedos a memória do teu lugar para nunca me perder de mim.

soLitudiNE

desvaneço no canto triste de uma gaivota enquanto a manhã é ainda deserto
Sento-me numa aresta do tempo a imaginar o por vir.
Não espero que nada me dilacere.
Não temo o vento que me leva sobre asas sem conhecer, ao certo, o chão do meu caminho.
Vejo tudo o que o acontece em mim tão claramente como se voasse sobre a água.
A praia está deserta de memórias de mim e sou eu quem a desenha nas linhas do horizonte que cabe, por inteiro, nas minhas mãos abertas.
Inalo o sabor do tempo enquanto defino, de novo, um sentido para continuar.
Permaneço no lugar exato em que me encontrei e remeto a escuridão para o silêncio que se entrega às coisas que não sabem ser livres.
Evado-me no ruído dos outros e encontro tudo na liberdade que abraça o meu único segredo.
Desfaço-me do que fui antes de ser aqui.
Despojo-me do que resta de tudo o que não me toca.
Guardo na memória o momento exato em que tudo mudou por dentro e o mundo inteiro se tornou um lugar que só eu conheço visceralmente.
Talvez tenha construído um lugar que me sustêm nas madrugadas em que a noite me conduz tão lentamente que demoro a sentir que o deserto terminou. Mas sento-me na linha do horizonte e não temo nada do que me espera a seguir.

28/07/2018

Tocas-me na voz ate me encontrares inteiro nos fragmentos da minha tão breve existência