Vejo-te atravessar a recta que te
define no sentido descendente. Há um rasgo de agonia que te preenche os passos
erguidos das cinzas. Falas para ouvires o som da tua própria voz e sentes as
palavras a desvanecerem no sentido que desaparece de encontro ao silêncio que
chega com o fim da noite. Sentes as vísceras a queimar-te nas cinzas abertas do
corpo enquanto olhas o nascer do dia a erguer-se de dentro da tua pele. Fechas os
olhos na ilusão de poderes desaparecer mas logo a dor te recorda como o teu
corpo ainda aqui está a tentar renascer das cinzas do incêndio repetido que
acontece em ti quando consegues medir o tamanho imenso do deserto que te ocupa
no interior do caminho.
E não desistes, nunca, de
continuar a andar.