09/11/2015

efémeRo


A noite começa com a agonia dos dias. Chove ininterruptamente desde que nasci. Nem um dia sequer a chuva parou de cair sobre o que restava de mim. A noite começa com o fim dos dias sobrepostos na mesma cor. Sempre na mesma cor. Sempre no mesmo lugar. Iniciei uma tentativa de fuga que me persegue há vários anos, décadas, eternidades. Tudo em mim é eterno. E efémero. Tudo em mim fica enquanto parte. Tudo em mim parte por não poder nunca ficar demasiado tempo a chover.
Doí-me o corpo quando me sinto na alma. O respirar é sonoro, vagaroso, sem ternura. O corpo balanceia na certeza incerta de continuar a correr, embora parado, embora o tempo tenha cessado na mesma cor dos mesmos dias sem fim.
Talvez seja a eternidade que habita em mim que me permite sobreviver à torrente de água que me segue todos os dias em todas as noites. Talvez seja a efemeridade que espero que aconteça em mim que me impele a continuar, sem parar, a correr na tentativa desenfreada de um dia conseguir escapar a esta chuva eterna.
 
A noite começa na agonia das noites em que a chuva não cessa de cair sobre os corpos perdidos no respirar lento.  

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