A noite começa com a agonia dos
dias. Chove ininterruptamente desde que nasci. Nem um dia sequer a chuva parou
de cair sobre o que restava de mim. A noite começa com o fim dos dias
sobrepostos na mesma cor. Sempre na mesma cor. Sempre no mesmo lugar. Iniciei uma
tentativa de fuga que me persegue há vários anos, décadas, eternidades. Tudo em
mim é eterno. E efémero. Tudo em mim fica enquanto parte. Tudo em mim parte por
não poder nunca ficar demasiado tempo a chover.
Doí-me o corpo quando me sinto na
alma. O respirar é sonoro, vagaroso, sem ternura. O corpo balanceia na certeza
incerta de continuar a correr, embora parado, embora o tempo tenha cessado na
mesma cor dos mesmos dias sem fim.
Talvez seja a eternidade que
habita em mim que me permite sobreviver à torrente de água que me segue todos
os dias em todas as noites. Talvez seja a efemeridade que espero que aconteça
em mim que me impele a continuar, sem parar, a correr na tentativa desenfreada
de um dia conseguir escapar a esta chuva eterna.
A noite começa na agonia das
noites em que a chuva não cessa de cair sobre os corpos perdidos no respirar
lento.
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