28/07/2022

lOuCuRa

Minha maior loucura, foi amar-te. 

e se a loucura for um erro, meu maior erro foi amar-te. 

e se a loucura for um arrependimento, meu maior arrependimento foi amar-te. 

e se a loucura for dor, minha maior dor foi amar-te. 

e se a loucura for angústia, minha maior angústia foi amar-te. 

e se a loucura for solidão, minha maior solidão foi amar-te. 

e se a loucura for idiossincrasia, minha maior idiossincrasia foi amar-te. 

e se a loucura for sofrimento, meu maior sofrimento foi amar-te. 

e a loucura é, intrinsecamente, todas estas coisas. 

foste, portanto, o maior erro de um arrependimento doloroso, envolto numa angústia solitária, idiossincrática de tão sofrida. 

25/07/2022

Se embateres de frente no que te impede o caminho, ou paras ou saltas...

Se parares, deixas de poder ir.

Se saltares, onde irás parar?

Não precisas de quem eu sou no que sobra de ti.

Deixo-te ir.


Já não regresso mais aqui.


Fico pendurada

Pela pele dos dedos

Pela pele das costas

Em ganchos de carniceiro

À espera que a gravidade me rasgue

17/07/2022

Sei 

que te amo 

quando, 

em demasiados momentos, 

todos os lugares te trazem 

até mim. 


Sei 

que não te posso ter

quando, 

em todos os momentos 

de todos os lugares,

não sou capaz de

te pedir 

que venhas.

15/07/2022

Somos os espaços em branco das nossas vidas.

Nos espaços em branco há lugares que são vazios. Lugares vazios são lugares em que cabe tudo. Lugares em que tudo cabe talvez não seja possível deixar ficar nada. 

14/07/2022

O vento quente atravessa-me na noite e leva-te do que resta da memória de mim.

Nenhuma estrada encontra o caminho de volta ao lugar em que o que ficou, ardeu por dentro.

O vento leva as palavras ardidas e deposita as cinzas pelos cantos da cidade.

10/07/2022


21.


E isto é tudo o que pode ser neste espaço em branco.

08/07/2022

sei 

sem querer

o peso 

que inflige

a falta 

de ti 

no interior 

do deserto

desfeito

das minhas 

mãos 

vazias


03/07/2022

Tenho o corpo solenemente cansado mas é a vigilia que me comanda.

Queria poder fechar os olhos nos intervalos do tempo e permitir ao lugar do corpo voltar a ser lugar da vida, mas há grades negras de sonhos putridos que me calcam o tempo e me devolvem ao acordar.

Meu leito é de ferro e não amansa, nunca.

Meu corpo é de restos e assim não retoma a ser inteiro, nunca.

Minha noite tem os intervalos de mim, entre o sonho e o nada, sempre a tornar-me mais lento, mais fechado, com maiores intervalos entre o que sou e o que não sou.

É a vigilia que me comanda no segredo do silêncio da noite cansada.