03/07/2011

rio.

Nasci com uma incapacidade incomensurável para amar. Tornei-me em algo abjecto, sem cor, sem carisma. Um saco plástico a boiar na sujidade do Tejo e nada mais do que isso.
A humanidade causa-me agonia. É-me insuportável escutar, ouvir, dizer, calar. É –me nauseante tolerar a presença do outro humano sobre a minha pele, a escorrer-me no suor, a doer-me nos ossos. Cansa-me. A humanidade. Tu. O outro. Eu mesmo. Nada mais que um fragmento de um nada qualquer a vaguear no sujo destas águas em que sonho que me afogo, agora mesmo, neste momento em que procuro – triste infantilidade esta – remeter-me à ilusão da solidão absoluta materializada pela possibilidade da inexistência de outros seres humanos no mesmo espaço que eu ocupo.
Valho muito pouco sobre e fora das águas deste rio cansado. Tão pouco que nada -  nem mesmo o silêncio que habita em mim- me reconhece.
Não sei bailar, não tolero o corpo em que me alojo, porque não lhe compreendo as dores e a amargura. A humanidade devasta-me. Queria poder ser água, agora, neste momento em que o rio se afoga em si mesmo.