20/01/2012

aBandOn_O

Deixaste-me ficar



                                  em suspenso


num lugar que não queria conhecer


                                  à espera.






Aguardei que as noites pudessem terminar,


Pelo menos por um                       momento.


Esperei sempre que o teu regresso fosse a minha libertação

e agora encarcero-me na chuva que não chegou a cair.






Guardo cada fragmento do tempo


                                                 deste tempo todo


e coloco-o no lugar que é mais fundo em mim,


antes de me deixar                 esquecer.






Respiro no respirar de uma apneia


                                                 demorada


E seguro o último resquício da minha voz


Em silêncio.                             Sempre.





Não reconheço o lugar onde caí

e nada me resta senão segurar a distância em ambas as mãos e correr até


poder voltar a cair.                    Sem esperar.


Uma e outra vez.


Até deixar de sentir o resto              que falta.



Abandonado em mim.















rest.AR

Há restos de comida no chão. Cheira ao que ficou de ontem. Cheira a noite vazia. A esterco. São restos aqui e ali. Coisas que faltam em coisas outras que não as que não chegaram a chegar aqui. Há restos em todas as divisões desta casa. Restos de ti. Restos dos restos que restaram de mim. Em todas as paredes os sinais que só a sujidade que carrego sabe deixar dançar sobre a ideia de claridade da luz. Mas não há luz aqui. Só os restos.  

pEl.E

Estou cansado. Limpo os olhos e as mãos da terra vermelha que chegou no vento frio da tarde. Coloco os dedos fechados nas palmas e o resto nos bolsos. Abro, lenta e dolorosamente, os olhos à medida que sinto o resto a aproximar-se. Estou cansado. Tenho as pernas a ranger no soalho apodrecido. Tenho o corpo frio como o inverno que confirmo existir somente em mim. Cumpro ordens das memórias soltas que me devastam num sol quente de um deserto esquecido em terras de uma África distante. Não tenho fé. Nem tenho já tempo para a aprender. Tenho o que penso ser um qualquer fim a chegar-me aos pés e decidi não fazer absolutamente mais nada para o impedir. Nem sequer fechar os olhos. Vou queimar-me das memórias inteiras e olhar o devir de frente. E mais nada seria expectável deste deserto que amanhece na areia vermelha da minha pele.

03/01/2012

nevo.a

o corpo fundido na
incerteza escura do
nevoeiro que se abateu pela cidade
hoje.
caminho como se arrastasse
correntes presas na pele
dos ossos.
há ruidos
insuportáveis
a moldar-me os pés
a ferir-me nos olhos
a abandonar-me na terra
dos jardins vazios.
sou a névoa do nevoeiro
hoje
e abandonei-me da
na
cidade.
hoje.

20.12

o que mudou,
agora,
que um novo ano começou?