20/11/2022

Não venho aqui ouvir os pássaros 


Venho 

lacrar a vossa ausência.

19/11/2022

VÁcuO

Recolhes-te

dentro da tua angústia 

por debaixo dos seixos negros 

na orla da costa que respira a lava que

quem 

olha de fora

não consegue 


ver.


Fechas 

teus olhos 

como quem 

fecha as mãos 

ficas

virado para o interior das tuas ausências 

com a dor 

a apontar 

o caminho

que 

fica 

para 


norte.


Seguras

em silêncio 

todas as mágoas do mundo

que colide 

com todas as areias 

perdidas 

nos caminhos 

do deserto

que te devasta

por dentro

a cegueira do caminho

que 

de frente para ti

te foge das mãos 


fechadas.


Somente

o tempo

vestido do negro dos seixos

despido do silêncio do mar alto

te poderá 

trazer

de volta

ao caminho 

onde 

deixaste

teus olhos


abertos.

16/11/2022

Toca-me.

Mais uma vez.

Prometo que não fico.

Prometo

que

não volto.

 

Deito-me, despido, sobre o beiral do tempo. Conto cada dia que passou nos dias que foram noites e sei o tempo todo que estive suspenso na tua sede.

Sei a fina lâmina que me lambe o lugar escondido que tuas mãos ocuparam no interior de meu corpo vazio.

Deleito-me na sôfrega certeza (ou somente memória) da vontade de me vestir dos contornos da tua desvontade.

Intento entregar-me (nu, descalço, com labaredas a emanar dos contornos da pele), à fealdade da violência que abraça a tua ausência quebrada no lugar vulnerável da condição de se não poder ser nada para além de selvagem.

Mas tua voz é sempre o meu lugar de redenção. O lugar onde o sol repousa. Onde o mundo para de gritar.

Sorvo cada som vibrado da tua fala, cada tom a saber tornar-se nos fios com que me defino na forma inteira, e tuas palavras e o aroma de tua pele nos meus dedos, são tudo o que me alimenta.

Transcendo a essência do ar que respiras longe de mim.

Quero-te tanto quanto te não quero.

Desejo-te tanto quanto te não suporto.

 

Toco-te.

Uma última vez.

Prometo

que

não

volto.

15/11/2022

quedam

desenfreadamente

sem rédeas ou amarras

rajadas oceânicas de chuva

que limpam esta terra 

e nela desferem seus golpes impiedosos

disfarçados nos fragmentos da névoa que tudo abraça 

cegamente

no rescaldo do ruído do cinzento

e a única coisa que me podia salvar 

do dilúvio  

seria 

se o por do sol que reside dentro da tua voz 

pudesse chegar até ao aqui.



13/11/2022

 está na hora de te deixar ir

04/11/2022

Inalo o sangue que respira dentro das tuas lágrimas caídas 

e rasgo a pele do peito enquanto corro, 

despida, 

nos lábios frios da sanidade insandecida do inverno que se abate na chuva incessante que só acontece por dentro da minha alma.


03/11/2022

ManChEstEr

Toca-me

no canto mais putrido de minha pele

no ângulo mais sujo de meu abismo

no resto mais devastado da minha continuação 

na letra mais tosca da única palavra que me habita a lingua.


Diz-me tudo o que sabes 

sobre as linhas tortas do meu destino tortuoso 

sobre a cor da sombra dos meus dedos arrefecidos na queda do dia

sobre a rugosidade dos calhaus secos que me colhem a pele e me cobrem os olhos abertos


Grita

no meu ouvir

no que já não sei sentir

no que é sem ser e é por já ter sido

e

depois

peço-te



abandona-me ao vento.