30/03/2022

 caem estrelas por entre o vazio que desce sobre o horror de minhas mãos

16/03/2022

são como alísios 

estes ventos que carregam sobre suas penas

todas as lágrimas desfeitas em pó 

de todos os desertos 

que nascem

e morrem

na fronteira de todos os gritos

que o silêncio morde nos dedos

onde reside a solidão de cada um de nós. 

são ventos que trazem ventos 

que não levam lágrimas de volta.


14/03/2022

a ausência tem o aroma da noite das flores de laranjeira

08/03/2022

Por vezes.

A irremediabilidade da tua ausência.

Bate-me de frente.

A qualquer momento.

Sem piedade.


Trazemos sempre.

Quem morre.

Pregado numa cruz.

Dentro do peito.

Na espera.

Do momento certo.

Para fazer.

Tudo arder.


06/03/2022

Meu amor é desinteressado, não pede, não cobra, nao espera nada em troca. É em verdade e cede sem questionar, devoto na sua certeza pura. Não olha para trás, não espera nada em frente. É,  em si mesmo, tudo o que é e nada mais. É sereno, dança como flores de amendoeira na brisa breve do fim do inverno. Resiste, de pé,  no deserto ou na ilha. E não teme. Não desiste. Não abandona. Permanece. 

Minha paixão deseja tudo. Pede. Espera. Anseia. Questiona. Rasga. Fere e quer ser ferida. É feita de sangue a correr, suor na pele, força nos dedos, quer tudo nas mãos e lugar no corpo. Grita, chora, corre, viaja e atravessa vales, montanhas e oceanos até ter o que deseja. Não cede. Soma tudo o que foi, tudo o que é, tudo o que pode ser. Guarda tudo no egoismo escarlate da tempestade da ânsia até chegar à linha do abismo e dá as mãos à queda. Sabe permanecer tão bem quanto desistir. Resiste mas não insiste. Permanece e muda. Hoje quer, amanhã oblivia. Hoje incendeia, amanhã é fria como uma manhã de janeiro. 

Talvez sejamos feitos do que sustém o limite entre estes dois lugares.

05/03/2022

estou deitado 

num lugar em chamas

de olhos fechados sob o mundo

a ouvir a chuva.

04/03/2022

sustenho-me

pela ponta dos dedos

na fina aresta do abismo

de saber ter a fé entregue

à esperança incerta de que

um dia

a espera termina

e tu chegas

ao lugar de mim.

É o vinho que me escorre nas lágrimas e no sangue e me inebria o sentido das palavras e a rudeza dos caminhos.

Há,porém, uma indiferença na cacimba que anuncia a possibilidade de chuva por de dentro da noite. 

E todos os anuncios de possibilidades são, de certa forma, anuncios de vida. 

Mesmo que escorram lágrimas dentro do sangue. Mesmo que corra vinho dentro das veias. Mesmo que tu nao estejas no lugar das mãos. Mesmo que o mar seja feito dos teus olhos. Mesmo que a areia seja fruto do teu corpo. Mesmo que as minhas mãos nao segurem nada para além de agua,

água que é sangue

sangue que é lágrima

lágrima que é ausência.

ausência que é um acto de amor 

amor que é cacimba a anunciar a possibilidade 

possibilidade que é uma espera 

espera que é razão 

razão que é sentido

sentido que é caminho

caminho que é perdição 

perdição que é o lugar de ti,

em mim,

irremediavelmente.