09/03/2011

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Não sei o que vou ser quando sair daqui.

Não sei quem posso vir a ser se conseguir sair daqui. Sabes que há demasiado arame farpado em torno deste lugar que me ocupa. Inteiro.

Eu mato-te e tu sabes que eu sou capaz de te matar. Se olhares para mim. Se me tocares. Se me não deixares passar. Tenho lâminas nas mãos e no corpo inteiro. Mato-te, a ti e a todos os que se puserem no meu caminho e não me deixarem gritar como eu quiser. Eu vou gritar como eu quiser. Não preciso que ninguém me diga o que fazer. Fui criado na rua. Na rua vive o mais forte. O que não tem medo. Tenho as marcas na pele para te mostrar que não tenho medo. Consegues ver? É bom que consigas ver porque é o que tenho para te mostrar.

Não te vou dizer nada que queiras ouvir. Não vou dizer nada do que queriam que eu soubesse dizer. Vou colocar o meu braço sobre a tua traqueia e vou começar a fazer força e vou fechar, devagarinho para que percebas tudo o que está a acontecer. Vou fechar.

Contas os segundos ou queres que seja eu? Conta. Vá. Conta enquanto eu faço força e tu deixas de conseguir respirar.

Estão a ver? Isto era o que queriam que eu não fizesse. Este é o meu arame farpado. O arame que me tem à volta dos olhos, à volta das mãos e dos dedos, dentro de mim. É o que sei de melhor.

Sabes tão bem quanto eu que nenhum de nós vai chegar a sair daqui. Não há espaço lá fora. Entre os meus braços e o teu respirar já há pouca coisa para nós.

Não vou ser nem um bocadinho melhor que isto com este arame farpado em volta. Vou só fechar os braços até ao fim e dizer-te adeus.