03/04/2013

estar estando


Estou sem estar como se estar significasse estar estando sem ter chegado a estar porque não chego a estar no lugar certo para se estar estando.
Se não estou não tentes que esteja porque vou estar sem estar a estar e isso não significa nada.
Queria que estivesses a estar estando sem teres de estar em nenhum outro lugar.
Se estivesses a estar aqui, agora, dir-te-ia que estou a estar estando sempre a estar sem ter de voltar a estar em nenhum outro lugar enquanto estiveres estando a estar aqui.

02/04/2013


Sento-me e aguardo. Fecho os olhos sobre os braços e canto em vez de chorar. Espero que a noite não seja mais dia mas o dia parece não querer terminar hoje. Guardo a confusão do mundo num lugar quieto e ainda assim…não pára. Aguardo. A noite vem sem ter vindo porque o corpo parece não querer ceder ao cansaço. Quero ceder ao cansaço. Sento-me e aguardo. Coloco a iluminação no mínimo possível para provocar uma saída. Inutilmente. Os olhos pesam sobre os braços e as feridas do dia começam a pulsar na pele. A dançar no pensamento. A electrificar a impossibilidade de parar. Sento-me e aguardo, em vão, que a noite me leve, quieto, até ao dia de amanhã recomeçar.

01/04/2013


é sempre inverno agora.

há uma primavera a querer começar e não há tréguas.

a chuva queda como se amanhã não houvesse mais do que a possibilidade de continuar um dilúvio puro para lavar a terra que ficou nas mãos cansadas depois da guerra.

hoje foi mais um dia deste dilúvio contínuo. caíram serras e montanhas dentro do mar revolto. cairam marés dentro da areia afogada em si. caíram homens dentro das suas próprias almas.

a maré cinzenta a consumir a cidade das cidades e a sombra das sombras. as mãos da terra e as terras das mãos.

o céu a enegrecer cada fragmento bélico no ar e a não ser possível respirar sem medo.

não olhes para o céu agora que é da cor da terra nas tuas mãos antes do mar chegar no resto da maré do dilúvio cansado e lavar tudo.

guarda tudo o que não queres que o inverno devaste porque já falta pouco tempo para tudo voltar a terminar. mais uma vez.

se o dilúvio de lágrimas em que o céu se desfez terminar, já não se recuperam as almas mas volta a ser possivel respirar o ar das marés, sem medo de cair na areia e se afogar.

não olhes para o céu. agora. espera.