é sempre inverno agora.
há uma primavera a querer começar e não há tréguas.
a chuva queda como se amanhã não houvesse mais do que a possibilidade de
continuar um dilúvio puro para lavar a terra que ficou nas mãos cansadas depois
da guerra.
hoje foi mais um dia deste dilúvio contínuo. caíram serras e montanhas dentro do mar revolto.
cairam marés dentro da areia afogada em si. caíram homens dentro das suas próprias almas.
a maré cinzenta a consumir a cidade das cidades e a sombra das sombras. as
mãos da terra e as terras das mãos.
o céu a enegrecer cada fragmento bélico no ar e a não ser possível respirar sem
medo.
não olhes para o céu agora que é da cor da terra nas tuas mãos antes do
mar chegar no resto da maré do dilúvio cansado e lavar tudo.
guarda tudo o que não queres que o inverno devaste porque já falta pouco
tempo para tudo voltar a terminar. mais uma vez.
se o dilúvio de lágrimas em que o céu se desfez terminar, já não se recuperam as almas mas volta a ser possivel respirar o ar das marés, sem medo de cair na areia e se afogar.
não olhes para o céu. agora. espera.