16/11/2022

Toca-me.

Mais uma vez.

Prometo que não fico.

Prometo

que

não volto.

 

Deito-me, despido, sobre o beiral do tempo. Conto cada dia que passou nos dias que foram noites e sei o tempo todo que estive suspenso na tua sede.

Sei a fina lâmina que me lambe o lugar escondido que tuas mãos ocuparam no interior de meu corpo vazio.

Deleito-me na sôfrega certeza (ou somente memória) da vontade de me vestir dos contornos da tua desvontade.

Intento entregar-me (nu, descalço, com labaredas a emanar dos contornos da pele), à fealdade da violência que abraça a tua ausência quebrada no lugar vulnerável da condição de se não poder ser nada para além de selvagem.

Mas tua voz é sempre o meu lugar de redenção. O lugar onde o sol repousa. Onde o mundo para de gritar.

Sorvo cada som vibrado da tua fala, cada tom a saber tornar-se nos fios com que me defino na forma inteira, e tuas palavras e o aroma de tua pele nos meus dedos, são tudo o que me alimenta.

Transcendo a essência do ar que respiras longe de mim.

Quero-te tanto quanto te não quero.

Desejo-te tanto quanto te não suporto.

 

Toco-te.

Uma última vez.

Prometo

que

não

volto.

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