Toca-me.
Mais uma vez.
Prometo que não fico.
Prometo
que
não volto.
Deito-me, despido, sobre o beiral do tempo. Conto cada dia
que passou nos dias que foram noites e sei o tempo todo que estive suspenso na
tua sede.
Sei a fina lâmina que me lambe o lugar escondido que tuas
mãos ocuparam no interior de meu corpo vazio.
Deleito-me na sôfrega certeza (ou somente memória) da
vontade de me vestir dos contornos da tua desvontade.
Intento entregar-me (nu, descalço, com labaredas a emanar
dos contornos da pele), à fealdade da violência que abraça a tua ausência
quebrada no lugar vulnerável da condição de se não poder ser nada para além de
selvagem.
Mas tua voz é sempre o meu lugar de redenção. O lugar onde o
sol repousa. Onde o mundo para de gritar.
Sorvo cada som vibrado da tua fala, cada tom a saber
tornar-se nos fios com que me defino na forma inteira, e tuas palavras e o
aroma de tua pele nos meus dedos, são tudo o que me alimenta.
Transcendo a essência do ar que respiras longe de mim.
Quero-te tanto quanto te não quero.
Desejo-te tanto quanto te não suporto.
Toco-te.
Uma última vez.
Prometo
que
não
volto.
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