Dispo-me enquanto
a noite arrefece.
A pele dos meus
pés toca o ranger da madeira. Levemente.
Sento-me, sem
nada a tocar no corpo, no chão junto à janela virada para a rua. Lá fora ainda
não faz tanto frio como dentro de aqui. Reconheço a pele a lutar contra tudo o
que sente vindo desta janela. Uma aragem incessante a colocar à prova a
sanidade.
Arrasto as mãos pelo odor do meu cabelo. Pouso-as sobre a cegueira dos meus olhos e desço, pelo resto do meu corpo até as pousar sobre a solidão da tua ausência.
O chão ecoa os teus passos. Consigo vê-los na perfeição através das linhas rasgadas na madeira. Sei que minha pele começou a sangrar enterrada sobre as farpas do passado vivido aqui, sobre esta madeira que canta as canções mais antigas.
A casa não fala enquanto a noite se põe. Não cheguei a despertar nenhuma luz pelo que rapidamente o meu pensamento fica tão cego quanto meu olhar. Penso no que penso e encontro já muito pouco. Um pensamento vazio num corpo despido sob o olhar do inverno. Um pensamento inebriado pela intensidade da tua partida.
Encaro a agonia de frente. Sinto as mãos a partirem para o lugar mais quente deste corpo. Coloco um dedo sobre os lábios do deserto aberto em mim e canto o canto dos cisnes pelo interior da noite que me abraça, inteiro, na possibilidade da sua finitude e penso que te irei encontrar. Depois. No interior da minha despedida.
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