03/05/2015

espero-te na entrada. sei que, eventualmente, acabarás por chegar.
espero-te como se me esperasse a mim mesmo. cesso todos os movimentos, até o respirar, enquanto aguardo. sinto os restos da chuva a passarem sobre meus dedos mas não sinto o frio.
recordo, lentamente, os passos que demos a atravessar as ruas, como nos perdemos das ruínas de nós no pó da terra inteira, como nos deixamos chover sem ter medo algum, como nos permitimos falar até o silêncio ter espaço para chegar, como o vento entoava melodias dentro do nosso sangue, como a poesia era tudo o que a dor deixava sentir.
poderia ouvir-te falar o resto da minha vida inteira.
poderia ser eu mesmo se existir passasse a ser o que acontece a teu lado, para o resto da vida.
espero-te na entrada, onde acabarás por chegar.
espero-te como se esperar fosse reconhecer ter encontrado o lugar de nós no que faltava desta cidade. fui saber-te tão longe, mas tão aqui, no lugar onde eu começo, no lugar onde tu começas, no lugar onde nos encontramos e conseguimos ser mais do que duas solidões perdidas no tempo.
talvez, um dia, possas regressar. talvez, um dia, te reconheças na espera e chegues, aqui, a este lugar onde eu não sei ser eu sem ti.

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