Sento-me na pedra da janela a
sussurrar a solidão. A noite abraça-me na sua pele quente e tremo. Pego nos fios
do tempo suspenso entre o que foi e o que me espera e entranço-me na certeza de
que o tempo não vai chegar.
Tenho os pés sujos de tanto caminhar
descalço. Tenho as mãos feridas de tanto tactear o espaço que vai deste lugar
que agora ocupo, até ao lugar que reservei ao meu fim.
Sinto o corpo ficar dormente. Sinto
a boca a secar nas palavras enroladas, inventadas, perdidas, fundidas e as
esquecidas. Sento-me à janela enquanto o fumo se dissipa no ar e entra na minha
pele. Cheira a noite e a solidão. Tudo
sabe a acre e a desilusão. Tento falar mas guardo-me em silêncio. Não há ninguém
a ouvir.
Cheira a solidão o abraço da
noite de hoje. Sabe aos fios do tempo que se enlaçam e se desfazem e se aniquilam
como se mais não fossem do que um sussurro a desaparecer no lugar reservado às
coisas que permanecem na ausência.
Sento-me na noite e aguardo o momento em que me desfaço no ar.
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