15/08/2017

4 waLLs

Há coisas que se movem dentro de palavras e dentro de movimentos que se repetem dentro de mim ate à exaustão. Que se repetem até à minha decadência. Palavras e sentimentos que não se podem organizar. Olho-me no espelho e não me reconheço. Penso que estou a morrer nos momentos em que o mundo inteiro me diz que estou vivo. Acredito que estou vivo quando o mundo inteiro entende que morri. Sou o que começa e acaba sem ter chegado a ser. Sou o lugar de partida, a meta, o percurso que vai daqui, deste lugar que me parece que ocupo, até um qualquer ponto em um qualquer lugar onde seria suposto eu chegar. Perdoa o meu desconforto, mas não me encontro. Nem aqui nem fora de mim. Nem neste lugar nem em nenhum outro. Há movimentos que se perpetuam dentro do que penso. Coisas que me tocam, onde eu chego com a ponta dos dedos. Coisas que e fogem e que não recupero se não cair mais fundo no abismo que se abre ininterruptamente em mim. Coisas que me definem e que em mim definham. Coisas que começam. Outras que terminam. Outras que ficam a meio caminho entre mim e o resto. Um intermediário interminável e intransponível. Um homem sentado numa cadeira dentro de quatro paredes que se tocam apenas com a pele, que se lambem com o respirar, que se encerram na voz, que definem o tamanho de dentro da minha solidão. Sou o poema e a sua antítese. Sou a teoria e sua falha. Sou a constelação e a estrela que queda e se desvia. O fogo e as cinzas. O deserto e a mar. E tudo acontece em mim a uma velocidade incontrolável e com uma força que apenas parece inabalável. Sou a sombra e a luz. A noite e a alvorada. O meio do caminho. Não chego a partir nem chego a chegar. Há coisas que se movem dentro de mim em palavras que eu não conheço, de lugares que eu não compreendo completamente e que me conduzem eternamente a uma exaustão abissal na mais profunda das solidões possíveis.  

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