Há coisas que se movem dentro de
palavras e dentro de movimentos que se repetem dentro de mim ate à exaustão. Que
se repetem até à minha decadência. Palavras e sentimentos que não se podem organizar.
Olho-me no espelho e não me reconheço. Penso que estou a morrer nos momentos em
que o mundo inteiro me diz que estou vivo. Acredito que estou vivo quando o
mundo inteiro entende que morri. Sou o que começa e acaba sem ter chegado a
ser. Sou o lugar de partida, a meta, o percurso que vai daqui, deste lugar que
me parece que ocupo, até um qualquer ponto em um qualquer lugar onde seria suposto
eu chegar. Perdoa o meu desconforto, mas não me encontro. Nem aqui nem fora de
mim. Nem neste lugar nem em nenhum outro. Há movimentos que se perpetuam dentro
do que penso. Coisas que me tocam, onde eu chego com a ponta dos dedos. Coisas
que e fogem e que não recupero se não cair mais fundo no abismo que se abre
ininterruptamente em mim. Coisas que me definem e que em mim definham. Coisas que
começam. Outras que terminam. Outras que ficam a meio caminho entre mim e o resto.
Um intermediário interminável e intransponível. Um homem sentado numa cadeira dentro
de quatro paredes que se tocam apenas com a pele, que se lambem com o respirar, que
se encerram na voz, que definem o tamanho de dentro da minha solidão. Sou o poema
e a sua antítese. Sou a teoria e sua falha. Sou a constelação e a estrela que
queda e se desvia. O fogo e as cinzas. O deserto e a mar. E tudo acontece em mim
a uma velocidade incontrolável e com uma força que apenas parece inabalável. Sou a sombra e a luz.
A noite e a alvorada. O meio do caminho. Não chego a partir nem chego a chegar.
Há coisas que se movem dentro de mim em palavras que eu não conheço, de lugares
que eu não compreendo completamente e que me conduzem eternamente a uma exaustão
abissal na mais profunda das solidões possíveis.
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