27/08/2017

obliVio

quero dizer-te que nesta praia onde nos esquecemos de ter sido, fomos tudo o que podíamos ser. mais não teria sido possível.
o mar leva o que resta do que ficou por dizer.
podes até ter esquecido os traços do meu corpo, mas jamais poderás esquecer as cicatrizes do que lhe infligiste ao longo de todos estes anos.
agora está tudo em ruína. agora está tudo a respirar sal pelas feridas e a ceder à lei da gravidade que o tempo comporta por dentro da vida. agora tudo apodrece e se desfaz nas nossas mãos.
quero dizer-te que é o mar que leva as palavras e me afoga. quero dizer-te que o tempo deixou tudo por dentro de minhas mãos e sou eu agora que ruo perante as cicatrizes de minh’alma e perante a memória do que foste.

Oblívio tudo o que jaz perante a luz morna desta lua de outono e entrego-me à certeza de que não posso ser mais do que o pó apodrecido desta praia ferida. 

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