08/12/2010

musgo

Lembras-te quando íamos apanhar musgo?
Lembras-te de como ficávamos pequeninos, a ver-te cirandar de um lado para o outro, a preparar o ancinho, a segurar o cesto com as mãos secas e cheias de rugas, tranquilas como a casca das árvores que nos ensinavas a dizer o nome?
Nós pequeninos a ver-te terminar de preparar tudo. Na ânsia que vem pela palavra que se tanto deseja ouvir. “Vamos”, sorrias tu a falar. “Vamos!”
Subíamos a serra com pernas de flecha, quentes por dentro do peito, com magia na ponta dos dedos. Corríamos como se a serra fosse mais de que uma serra, fosse um lugar que só nós tínhamos, que só nós podíamos conhecer.
Enterrávamos as mãos pequeninas na terra fria e sentíamos o calor a chegar às faces já rosadas. De botas até ao joelho, cachecóis e gorros, segurávamos o olhar enquanto que tu, com dedos de árvore e mãos mágicas, retiravas o musgo das pedras e colocavas no cesto. Os nossos olhares suspensos no nevoeiro da manhã na certeza de que ali, naquele preciso momento, tudo o resto era possível.
Com as nossas mãos pequeninas a segurar-te as pontas do casaco e do cesto e das luvas e das cascas de árvore, caminhávamos a sorrir as palavras todas, já sem pressa, de regresso a junto da lareira.
Depois, viria o tempo de colocar o musgo sob as figurinhas de barro pintado que tentávamos descobrir quem eram, sem perguntar, a ter vergonha de perguntar as coisas que se devem saber sempre mas que se querem ouvir, vezes e vezes sem conta.
Lembras-te quando éramos assim e o mundo fazia sentido?

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