Começo a correr quando a chuva
regressa. Começo a cair quando a frio recomeça. Doí-me na frente do olhar a
imagem da minha ausência. Invejo o amor que reside nos corpos dos outros, nos
segredos dos outros, nos segredos teus em que eu não tenho espaço nem lugar. Corro
sem me mexer. Dentro de mim devasto o vento na minha velocidade aniquiladora. Nada
sobra depois da minha passagem. Não tenho segredos. A verdade é que não tenho
nada em mim para te entregar e não te sei dizer isso. Não me te sei dizer nada.
De forma nenhuma. Vez nenhuma. Doem-me as vísceras no respirar. Desfaço-me me resquícios
de cinzas de cada vez que sinto como me faz falta sentir na língua os segredos
que residem na tua fragilidade. Corro a mexer-me inteiro dentro de mim e a
saber-me ao sabor acre que reside nas coisas gastas pela ferrugem do tempo. Rasgo-me
na certeza plena de que nunca mais poderás chegar perto de mim. Porque eu não
tenho lugar no lugar de ti. Começo a correr assim que regressares.
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