Pensei em começar tudo de novo. Fechar
os olhos. Deixar as sombras passarem diante de mim e recomeçar. Anjo e demónios
digladiam-se dentro de mim e são as suas vozes que oiço em gritos desvairados
dentro da minha solidão. Pensei em começar tudo do princípio. Voltar ao lugar
onde a minha existência teve o seu primeiro sentido, em que a minha desistência
teve a sua primeira vitória, em que a minha desgraça me dignificou. Queria poder
começar de um lugar onde eu não estava. Na verdade, todos os lugares em que
estive as vozes não me abandonaram. Na verdade, de todos os lugares em que me
vi, as sombras não me deixaram. Pensei em começar de novo mas sem estar lá. Sem
ser eu o começo nem o fim. Estar sem estar e ser sem ser. Percebi, no momento
em que me olhei no espelho da mesma sala, na mesma casa, na mesma morte, que
não se pode começar do princípio vez nenhuma. As sombras são o meu começo, a
minha angústia o meu eterno fim.
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