Queimo na pele a tua ausência. Sinto
a tua boca mergulhada na minha distância e recordo a dimensão eterna que
residia no teu beijo. Rasgo a tua voz na violência do meu pensamento. Corto o
sangue que me escorre das mãos e deixo de ver a nitidez de mim. Danço absolutamente
ébrio na intensidade esquecida da noite fera que me traz até ti e me deixa
depois completamente só. Verto-me no asfalto e espero que alguém me dilacere e
me desfaça de encontro ao gelo da estrada. Evado-me na certeza de que tuas mãos
me cobriram os olhos de todas as vezes que não pude chorar-te, me calaram o
grito de todas as vezes que não pude chamar-te, me seguraram o corpo de todas
as vezes que me deixei cair na imensidão da insuportável solidão de ser eu
mesmo dentro de mim. Queimo na pele a marca da tua ausência. Olho em redor e
não vejo muito para além do nevoeiro que chega com a manhã dos dias que
continuam a vir, um atrás do outro, de passos mansos e agressões atrozes. Deixa-me
recordar-te até ao dia em que o meu sangue se esqueça de respirar. Deixa que
teu beijo percorra todo o meu corpo e eu padeça de tanto te amar. Emolo-me na
certeza de que não regressas mais a mim.
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