23/03/2016

abSentiA


Queimo na pele a tua ausência. Sinto a tua boca mergulhada na minha distância e recordo a dimensão eterna que residia no teu beijo. Rasgo a tua voz na violência do meu pensamento. Corto o sangue que me escorre das mãos e deixo de ver a nitidez de mim. Danço absolutamente ébrio na intensidade esquecida da noite fera que me traz até ti e me deixa depois completamente só. Verto-me no asfalto e espero que alguém me dilacere e me desfaça de encontro ao gelo da estrada. Evado-me na certeza de que tuas mãos me cobriram os olhos de todas as vezes que não pude chorar-te, me calaram o grito de todas as vezes que não pude chamar-te, me seguraram o corpo de todas as vezes que me deixei cair na imensidão da insuportável solidão de ser eu mesmo dentro de mim. Queimo na pele a marca da tua ausência. Olho em redor e não vejo muito para além do nevoeiro que chega com a manhã dos dias que continuam a vir, um atrás do outro, de passos mansos e agressões atrozes. Deixa-me recordar-te até ao dia em que o meu sangue se esqueça de respirar. Deixa que teu beijo percorra todo o meu corpo e eu padeça de tanto te amar. Emolo-me na certeza de que não regressas mais a mim.  

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